domingo, 6 de julho de 2008

Sem memória



"I'm just a fucked-up girl who is looking for my own peace of mind. Don't assign me yours."

Enlouqueceu na primeira vez que o viu passar. Nunca mais foi a mesma. Lembra até hoje com clareza. Ou talvez tenha imaginado, criado, moldado, distorcido a lembrança como argila. Memórias são tão mutáveis, deslizam pelo dedo com tanta desenvoltura. Não tem mais tanta certeza assim. No corredor. De jaqueta amarela, mão fina e relógio grande. Não desistiu até o ter. E não demorou nada, gabou-se. E tudo deu errado. E tudo deu certo. E errado novamente. E o tempo foi passando. Ele entrou e saiu da sua vida tantas vezes que já perdeu a conta. E todas elas foram definitivas. Houveram sim outras paixões. De ambas as partes. Mas sempre, em algum lugar, o reencontro. Hora em uma festa ao acaso nessa cidade tão grande. Outra no cinema. O acaso sempre lá. Real ou imaginado. Nunca houve consenso, essa é uma das poucas certezas que carrega. Nunca houve amor. Somente madrugadas insanas e muitas palavras. Tantas palavras. Palavras, palavras, palavras. Realidade, ficção, palavras... Afeto, ele diz ao telefone mais uma vez. Vício, ela admite mais uma vez na noite. Febre. Chora, dorme e almaldiçoa o dia em que o viu passar e desejou aquela mão fina pela primeira vez. Por que não existe clínica de desentoxicação de pessoa? AA, igreja ou grupo de ajuda para exorcizar o corpo do outro? Remover a presença, matar o desejo, trucidar qualquer sentimento que não seja indiferença. Sim, já desejei poder dormir e acordar sem memórias como em O brilho eterno de uma mente sem lembranças. Já desejei não o ter conhecido, já desejei... tudo para não sentir essa amargura no peito mais uma vez.



Minha postagem de hoje era orginalmente sobre arte contemporânea e a exposição Transitory Object for Human que traz 12 obras interativas da artista sérvia Marina Abramovic, feitos para ser interativos, os trabalhos são compostos de cristais, cobre, ferro, alumínio, ametista, quartzo rosa, lápis-lazúli, flores desidratadas e cabelo humano...



Transitory Object for Human
de terça a sexta, das 10h às 19h e sábado, das 11h às 17h
Galeria Brito Cimino - Rua Gomes de Carvalho, 842, Vila Olímpia
até 2 de agosto - entrada franca

5 comentários:

thiago roque disse...

uau.

Rosa Bertoldi disse...

Mudou por que? Minha postagem era.... fiquei curiosa!
Adorei!

Janaina Fainer disse...

pq vai ficar para semana q vem, Rosa

Camilla Tebet disse...

Adorei que a postagem tenha sido essa. Assim, como um cuspe (muito bem cuspido) de revolta.. Isso mesmo. Por que não existem clínicas e desintoxicação de pessoas?? Eu concordo. Mas como já aceitei que elas não existem, passei a acreditar que se é assim, se a pessoa não desgruda dos meus pensamentos, se ela entra e sai da minha vida assim, como num acaso de festa em cidade grande, então é porque ela deve ficar. E estar na Assim,acabar com a amargura. Mas também amor tem que ter duas vias, caso contrário é amargura. E se amargura for, mantra minha filha, muito mantra pra se convencer de que a pessoa não vale o gosto amargo.
Seu post mais forte!!

Mariah disse...

hoje escrevi sobre nosso talento de romancear nossas lembranças.
um fato preto e branco, ganha cores.
notícia de jornal vira romance.
todo sapo vira príncipe.
estranho isso não?