quinta-feira, 31 de julho de 2008

sorriso

ela acordou.
e escolheu sorrir.
um movimento simples.
lento.
para ser saboreado.
café-da-manhã completo.
moça bonita...
os lábios, espalhando brilho e vida, se abrem.
o rosto invadido. tomado. dominado.
imagem milimetricamente esculpida.
trabalho dos deuses. bênção. amém.
pequenos suspiros de paixão.
flerte sacana com o desejo.
a boca se estende.
o sorriso surge.
nasce pequeno, tímido até.
de repente, está lá, inteiro.
exibindo-se.
exibido.
pobre mortal.
claro que estou falando de mim.
de você.
de todos.
hipnotizados.
parados.
respiração presa.
palavras gaguejando no cérebro.
implorando ao deus e ao diabo para o momento não acabar.
não, não acaba.
nunca acaba.
mais fácil o mundo acabar.
sorriso não é substantivo.
não se conjuga.
igual o dela, não tem plural.
é eterno.
ela volta a dormir.
com um resto daquele sorriso no canto da boca.
moça bonita.

quarta-feira, 30 de julho de 2008


Que eu me organizando posso desorganizar!
(Chico Science e Nação Zumbi)

terça-feira, 29 de julho de 2008

Debaixo dos Caracóis...

Ganhei um disco da Fernanda Takai. Adorei! A moça tem voz suave e agradável cantando bossa nova numa homenagem à musa do movimento, Nara Leão. Lá pelas tantas ouço uma música que me fez entrar no túnel do tempo: os pesados anos de chumbo vividos pela sociedade brasileira durante o governo militar. Ele flutuava, ora acariciando, ora batendo com força nos estudantes e nos cidadãos por tentarem protestar contra a dita-dura. Passei pelo prédio do Dops como todo estudante daquela época. Confesso, eles nunca me bateram.
1970: só se falava em milagre brasileiro, termo relacionado ao desenvolvimento. Não me pergunte qual, por favor... A censura corria solta e o Brasil foi tricampeão. Os primeiros compact disc estavam sendo criado. Os Novos Baianos lançaram seu primeiro disco e a Tropicália estava em gestação. Gil e Caetano não tinham noção da importância futura do movimento na cultura brasileira. Raul Seixas, Jerry Adriane, Vanderléia, The Beatles, Jimi Hindrix, Janis Joplin eram nossos ídolos. Também tinha a dupla de compositores Erasmo e Roberto Carlos. O sonho acabou...desabafou John Lennon, enquanto o Brasil retrucou: o pesadelo mal começou.
Caetano Veloso exilado em Londres, teve permissão para passar um mês no Brasil, por ocasião dos quarenta anos de casados de seus pais. Quando ele desembarcou no Rio de
Janeiro foi recepcionado pelos militares e interrogado. O governo deu também seu recado: queria uma música dele elogiando a Transamazônica, uma obra que nunca foi concluída. Ele disse não e ironicamente seu próximo disco lançado na Inglaterra teve como título Transa. Nesse pano de fundo, Erasmo e Roberto Carlos compuseram uma música em homenagem ao baiano: Debaixo dos caracóis de seus cabelos. Daí o titulo do meu post e o motivo dessas recordações. Caetano Veloso não foi o único brasileiro a ficar no exílio. Talvez, ele tenha somente se tornado o mais conhecido. Fernando Henrique Cardoso e Ruth, Leonel Brizola, o governador Serra, Chico Buarque, David Capistrano Filho e muitos outros permaneceram longo tempo fora do país. Tinha também Erasmo e Roberto Carlos... frase escrita por puro preconceito. Como se eles fossem um mundo a parte. Daí a surpresa de muitos com a canção. O que deve ter marcado forte foi o fato de Roberto, considerado alienado pelos estudantes e pela classe intelectual compor a música. Qualquer um de nós gostaria de ter escrito os versos.

“As luzes e o colorido / que você vê agora / nas ruas por onde anda / na casa onde mora / você olha tudo e nada / lhe faz ficar contente / você só deseja agora / voltar pra sua gente”.

Sim, Caetano trouxe debaixo dos caracóis de seus cabelos muita história pra contar, mas deu a minha geração uma lição de tolerância e humildade difícil de esquecer, pois sempre gravou as músicas de Roberto e outros “cafonas” mostrando que cultura erudita e popular é só cultura. São as duas faces desse território verde/amarelo imenso.
Atualmente está preparando um show ao lado do rei Roberto Carlos e deve ter gente pensando que ele está pegando carona no sucesso do outro. O inverso é mais provável, mas deixa pra lá. Esse é o admirável Caetano Veloso, um poeta enormenormenorme...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Da terrinha




Já disse aqui uma vez que nasci e fui criado numa pequena cidade do interior. Embora seja muito pequena, com pouco mais de 30 mil habitantes, e muito do interiorrr, a 600 quilômetros da capital, é incrível a capacidade de encontrar com meus conterrâneos, não só aqui em São Paulo como em qualquer outro lugar do Sistema Solar. Lembro-me da primeira vez que saí à noite em São Paulo, há mais de 8 anos, coincidentemente com a Jana Fainer. Fomos a um teatro não me recordo muito bem onde, mas na fila encontrei com um conhecido da minha cidade natal. Fiquei espantado. Depois da peça, fomos a um bar na Vila Madalena. Foi chegar e encontrar mais outro conterrâneo! Pensei que jamais poderia fazer nada de errado aqui.


Isso tem se repetido frequentemente ao longo desses anos. Parar, no trânsito, imediatamente atrás de um carro com a chapa de lá ou de uma cidade vizinha, virou uma coisa natural. Passei a entender o porquê a população da cidade não cresce: eles se esparramam pelo mundo! Parece erva-daninha, que surge em todos os lugares.


De férias em Porto de Galinhas, com minha namorada e conterrânea também, encontramos com a irmã de um amigo “das antigas”. Meus irmãos, quando viajam, também encontram com conhecidos. Quando se pára em qualquer posto de gasolina, em qualquer um dos caminhos que liga a cidade à Capital, em um feriado prolongado, encontram-se rostos familiares. Minha colega de baia, ao meu lado, é filha de conterrâneo. Outro colega do trabalho nasceu na cidade vizinha. Meu pai, que passou semana passada semana aqui, encontrou ex-aluna na esquina e filho de colega numa loja.


Quando as pessoas perguntam de onde sou, normalmente explico que vim de uma pequena cidade do interior, que nunca ouviram falar. Evito dizer o nome. Se não confundem com uma cidade de Minas Gerais, cujo nome é semelhante, dizem que tem um amigo que conhece alguém de lá. Isso não é raro.


Minha irmã tem uma teoria que diz que Adão e Eva eram de Adamantina e que o Sermão da Montanha aconteceu no Buracão do Endo.

domingo, 27 de julho de 2008

Esse não vai ser um bom post

Um post sobre questões ou peça ou exposição. Vai ser um post que está exatamente como eu nesse momento. OK. Nem bem nem mal. OK!
Essa semana teve de tudo. Começou já quente com briga em equipe e portas sendo esmurradas ainda na segunda feira de manhã. E piorou. Teve fim de amor. Que amor? Fim. Teve uma ligação feita à luz do dia daquelas que lembram aqueles medos infantis que se resolviam à luz do dia. O medo passava, a realidade voltava ao normal e as sombras na parede eram somente sombras na parede, graças à luz do dia. A simples chegada do sol, da claridade, gente andando na rua. E foi isso. Naqueles dois ou três minutos a vista clareou. E tudo foi isso. À luz do dia a voz não era sedutora, a conversa interessante... A luz do dia tudo era tão cristalino. Ele não era o homem que buscava.
Lembram daquele episódio em que Angela do My so called life acorda, ouve The Misfits e descobre que esqueceu Jordan Catalano? Foi bem isso. Em uma ligação descobri que já era e fiquei feliz com isso. E a semana seguiu turbulenta e atribulada. Corri muito. Tive TPM. Tomei decisões. Tive saudade de casa. De comida de mãe, de ver filme com pai e jogar conversa fora. Saudade de casa. Passei horas na academia e na sauna porque o melhor remédio para stress é suar muito mesmo. E tomei cerveja porque senão a academia pode funcionar e isso não teria sentido! E revi amigo eterno e dei risada com novos e tudo foi bacana. Joguei na Mega Sena. Não ganhei ainda. Corri mais um tanto e outras discussões vieram e foram acalentadas. Conversei bastante. E já, senhoras e senhores, estou de queda por um cara. Estranho, como sempre. E veremos os próximos capítulos. Mas felizmente hoje é domingo e como domingo a vida se encontra suspensa entre aquilo que foi e o que será. Outra semana começa.

sábado, 26 de julho de 2008

Acerto de Contas


Acho que nunca tinha comentado com ninguém. Por falta de termos tocado no assunto, no entanto. Não que tivesse algum problema em falar.
Desde o primeiro vestibular que fiz prá Economia na Unicamp em 1994/95, passei a ter uma implicância absurda com a obra Guernica, de Picasso.

Algumas pessoas sabem que apesar de minhas notas terem sido superiores às das pessoas que foram aprovadas em outras matérias, exceto história, eu fui DESCLASSIFICADO do vestibular. Pois é... há uma possibilidade de desclassificação quando algumas condições mínimas para aprovação não são alcançadas. No meu caso, as condições mínimas eram tirar 3 de história e matemática na segunda fase. Acreditem ou não, mas eu tirei 2,2 em história... E na minha cabeça a culpa era da Guernica até a semana passada.
A única questão da prova que nunca saiu da minha cabeça, foi uma em que o quadro de Picasso era apresentado e tínhamos de dissertar sobre o quê o quadro retratava. Convenhamos que prá um garoto de 17 anos estudando em Bauru, seria normal não saber nada sobre a Guerra Civil Espanhola... Eu não tinha a menor idéia, ao menos...Aliás, essa coisa de arte começou a entrar na minha vida ao vir prá SP com uns 21/22 anos somente...
Enfim... depois de ficar com a imagem do quadro marcada em minha mente e estar confiante de que havia passado no vestibular, algumas semanas depois tive a inesperada resposta de que não... não tinha sido daquela vez. Tinha sido desclassificado do vestibular.
Eu nem pensava nas outras perguntas que errei... Fiquei sempre com aquele quadro maldito na cabeça e pensando que se eu soubesse o que estava ali, eu teria passado no vestibular em Campinas, como tudo deveria ter acontecido...

Academicamente, tomei outro rumo, e não sei dizer se melhor ou pior... mas fui e sou bem feliz, então não penso muito nisso.

Mas o quadro...sempre ficou aqui... sempre meio que impliquei com aquela imagem daquele touro, daquela gente deformada e meio que queria que a Guerra Civil Espanhola se danasse. Associava a uma daquelas idéias de que deve ser um quadrozinho de meio metro quadrado exposto num museu idiota prá um monte de imbecis acharem que é algo importante...

Estava em Madrid na semana passada. Obviamente fui ao Centro Reina Sofia para admirar a arte e com certeza aproveitaria prá desdenhar mais um pouco daquela imagem idiota de Picasso...

No entanto, lá estava ele... numa sala exclusiva, ENORME (3,5 x 7,5 m) exposto com iluminação especial... cercado de pessoas do mundo todo, com seus queixos caídos.

Eu era mais um deles...

Senti um calafrio. Fui pego desprevinido. Aquela imagem que sempre foi associada ao meu fracasso no vestibular nada tinha a ver com aquele painel enorme e maravilhoso exposto na parede. O medo, a tristeza, os assassinatos...tudo está ali...Como é possível alguém conseguir descrever tanto em tão pouco?

Não conseguia parar de olhar... Ouvi o audio-guia 8 vezes prá pegar cada detalhe do que ali estava exposto... Fiquei por volta de meia hora naquela sala, olhando prá mesma parede. E havia mais... esboços, fotografias, maquetes do pavilhão de exposição da Espanha onde foi apresentado o quadro em 1937...tudo ali... perfeito...grandioso... significativo.

Não consegui parar de sorrir depois de sair do museu. Foi uma sensação interessante e tenho certeza de que a sentirei poucas ou nenhuma outra vez.

Mais tarde, alguns amigos indicaram-me assistir a um dos excelentes documentários da BBC de Londres que tinham em sua casa justamente sobre Picasso.

No documentário é narrado um momento em que os militares dirigem-se a Picasso e perguntam se foi ele quem fez aquilo que está na parede, referindo-se à Guernica. O artista volta-se a eles e então responde: "Não....Foram vocês..."

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Cerveja...

Estou extremamente feliz com o fato de não dirigir. Tenho carta de motorista, mas não dirijo. Não se trata de opção. Mas, definitivamente, desisti de pedir emprestado o carro do meu pai ou da minha mãe. Mas nem ligo para isso. Confesso! Enquanto outros tantos jovens fazem de tudo para pegar emprestado o carro do pai e dar umas voltas pela cidade, eu vou até o ponto de ônibus próximo à minha casa e, alguns minutos depois (ok, algumas vezes, algumas horas depois), chego ao lugar que desejo. Assim, não me preocupo, em tempos de "lei seca", onde haverá uma blitz policial. E, conseqüentemente, eu bebo feliz da vida. E, se tiver amigos ao meu lado, bebo mais feliz ainda.
Desde sábado passado, tenho encontrado amigos pela cidade. Em botecos, baladas, teatros paulistanos. Se no sábado, à tarde, bebi a felicidade de reunir amigos de longa data, à noite, no mesmo dia, comecei a dançar e só fui parar no dia seguinte. Dia, inclusive, que foi completo com medo, gritaria e muitas emoções em brinquedos do Playcenter... impossível esquecer a moça que "controla" o brinquedo do Turbo Drop... "tchau, tchau tchau"...
Desde segunda, em botecos da avenida Paulista e região, bebo a vontade de matar a saudade de amigos de perto e de longe. A raiva desapareceu depois de um único abraço. Para completar, aquela com quem protagonizo dramas e comédias me disse que não deveria ficar bravo. E ela tem razão! E, mais uma vez, contamos, um para o outro, nossos sonhos do presente...
Hoje tem mais cerveja... mais uma despedida... mais uma história que termina um capítulo! Não esqueça de brindar antes de dar o primeiro gole na gelada cerveja...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

óbito

faleceu hoje, em um dia sem sol, sem chuva, sem calor, nem frio, o amor.
filho da pureza (in memoriam) com o pecado, não há uma hora precisa nem causa específica para sua morte.
em seu enterro, milhares de fiéis acumularam-se em filas para lhe dar o último adeus.
esse personagem acreditava em um utópico mundo melhor – daí a legião fervorosa que seguia seus princípios e bradava aos sete mares as glórias que o amor poderia promover na vida das pessoas.
sua qualidade mais destacada era a perseverança. apesar das provas constantes que o velho mundo dava de ser um local nada amistoso para quem pensava como o amor, esse revolucionário respirou até o último minuto seu ideal.
polêmico, o amor colecionava sabores e dissabores por onde passava. Com o tempo, fãs tornavam-se desafetos; seguidores passavam a ser opositores; simpatizantes abandonavam a causa. contudo, articulado e com grande poder de convencimento, para cada soldado que perdia, ganhava dois novos recrutas.
não à toa, sem ele, grandes líderes, como o respeito, e grandes inimigos, como a indiferença, ficam sem horizonte.
alguns acusam o amor de iniciar um neonazismo no planeta: por meio de lavagem cerebral, ele reunia voluntários dispostos a dar a vida por uma utopia difundida por esse idealista – mecânico de profissão. outros, porém, consideram o movimento dentro da chamada democracia dos sentimentos – já que havia tanto espaço para a ignorância e para a intolerância, por que o amor não poderia reivindicar um lugar ao sol?
nessa gangorra de opiniões discrepantes, os governos dos continentes ainda não decidiram se promoverão o amor a mártir, rebelde, deus ou procurado pelo fbi – reunidos há cinco horas, eles não chegam a um consenso. o povo ganha as ruas, cada qual com sua opinião, e o exército já foi chamado para garantir ordem às manifestações.
independentemente de quaisquer decisões, é consenso de que o amor é personagem único na história até hoje. apesar de seu vício em corações puros (uns dizem que a causa da morte seria até por overdose), tinha a força dos grandes líderes, o carisma dos maiores vencedores e o apoio das massas.
tudo isso, porém, não foi suficiente para a vitória plena. recentemente, colecionava mais e mais derrotas em sua caminhada, que minavam, a conta-gotas, seu bem-estar. não era segredo que sua saúde estava debilitada há algum tempo, mas sua doença nunca foi revelada – nem mesmo por paixão e tentação, irmãs mais novas e braços direito e esquerdo do líder.
foi encontrado morto no jardim de sua casa, deitado na relva, como se estivesse a descansar. talvez fosse a hora mesmo.
se vai deixar saudade, nem mesmo o tempo, seu melhor amigo, ousa dizer.

quarta-feira, 23 de julho de 2008


Bicho é bicho.
Gente é gente.
É o que dizem.
Eu sou meio bicho, meio gente.
Subo em árvores.
Hiberno.
Como até doer a barriga.
Mordo, quando fico brava.
Ajo por instinto.
Não seguro xixi.
Não guardo rancor.
Adoro carinho na barriga.
Coçeguinha na orelha.
Não gosto de ver ninguém sofrendo.

E se chegam perto dos meus viro fera.
Mas dizem que bicho é bicho, gente é gente.
Quem será que é gente?



Ps. a foto é do meu dog, o Lucky! Lucky me!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Como vim parar no meio desses jovens blogueiros com habilidades enormes?

Por que tenho dificuldades para “pilotar” imagens e textos do sete graus de separação? Será que preciso atualizar-me com urgência?
E também fico imaginando se o correto não seria ter-me apresentado? Não me lembro se todos fizeram isso. Afinal quem é Rosa Bertoldi? Sei... sou eu: uma mulher sem motivos para esconder-se atrás de um pseudônimo. Gostei da brincadeira e deveria assinar como a segunda, pois Rosa Bertoldi I era minha bisavó austríaca, uma irreverente fora do seu tempo. Sou casada e mãe de dois filhos. Aqui em casa tem um cachorro, um gato e duas gatas. Eles se amam e se odeiam, ao mesmo tempo. Aprecio a obra de Tarsila e a atualidade dos escritos de Oswald de Andrade. Caetano Veloso é meu predileto, pois tal qual um bom vinho está envelhecendo cada vez melhor. Deveria dizer mais sonoro ou mais poético? Como a Janaina disse, eu leio Kerouac, mas leio também qualquer livro que caia em minhas mãos, de Dan Brown ao rabino Nilton Bonder e Padre Beto. Só não li ainda Paulo Coelho.
A senhorita domingo bem podia ter colocado o seu texto de introdução ao meu livro Com Textos, assim vocês poderiam me conhecer melhor. Como ela não fará isso, então vou transcrevê-lo logo abaixo. Descontados os exageros, como uma referência a casa da Eny, tem algo de verdadeiro nele. Campo de concentração? Ela passou perto, pois alguns dos meus antepassados desapareceram em Auschwitz. Nesse local, o verbo desaparecer é um eufemismo para morrer. Mas, deixa isso para lá e vamos à descrição da Janaina sobre o livro e sua autora, eu. Relendo-a descobri porque eu estou aqui. Espírito de aventura, essa é a razão. Não sou louca, quer dizer, pareço normal... mas certa vez vi uma frase de Kierkegaard que sigo a risca: “Aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de arriscar-se é perder-se a si mesmo. E aventurar-se no sentido mais elevado é precisamente tomar consciência de si próprio.” Portanto, Rosa Bertoldi II aventure-se ou suba nos telhados, como quer a senhorita domingo.

Da arte de subir em telhados

Quando recebi por e-mail o convite para fazer a apresentação do livro de crônicas de Rosa Bertoldi, hesitei. Como apresentar alguém que não conheço? Ou melhor: que só conheço através de textos? Como apresentar uma figura enigmática e a quem a vida fez com que escrevesse com um pseudônimo? Aí que responsabilidade.
Refugiada de Guerra? Judia perseguida? Ou dona de casa mãe de sete filhos? Traficante colombiana? Antiga funcionária da Cada da Eny? Aí, aí, aí...
A imaginação vai longe e os textos não respondem e sim geram mais e mais perguntas. Uma escritora nata. Essa é uma certeza. Capaz de passar de um assunto a outro com tranqüilidade e estilo. Diferente dessa pobre atriz que aqui faz às vezes de escritora.
Não só uma escritora nata, mas também uma mulher culturalmente desenvolvida. Uma narcotraficante que ouve Caetano e cria gatos? Não, acho que não.
Uma espiã fugida da guerra que enlouquece o mestre de obras, lê Kerouac e usa Alexandre Herchcovitch? Juro que cheguei a cogitar essa idéia. Mas não, uma mulher nascida em Bauru, esposa, mãe de filhos, profissional multifacetada e artista de corpo e alma. Essa sim é Rosa. E que Rosa!
Brincadeiras a parte, nas crônicas de Rosa Bertoldi há um tanto de anarquia, de tropicalismo, de Caetano, de Zé Celso, de literatura beatnik, de desconforto com o mundo fora da ordem, de vontade de mudar, de doçura, de pós-modernidade, de amante, de hiper-modernidade, de brincadeira saudável e de dureza. Uma mulher difícil de agradar, diriam alguns. Ou uma mulher interessante, diriam tantos outros.
A autora, além de uma incógnita, é uma leitura delicada, deliciosa e altamente divertida.
Rosa Bertoldi comete como poucos, a ousadia de “subir em telhados” expressão referente ao espetáculo de Paulo de Moraes realizado em 2002, e que a meu ver, explica muito bem a postura de certos contestadores frente ao mundo.
Divirtam-se.
Janaina Fainer


segunda-feira, 21 de julho de 2008

Segunda...

Para não passar em branco. Desculpem-me, mas a imagem diz tudo.





domingo, 20 de julho de 2008

De príncipes com ou sem cavalo

Era a terceira tentativa de manobra. Já estava em vias de desistir quando uma voz disse:
- Desce.
- Oi?
- Desce.
Desceu. Não, meus caros, não era assalto. Estava dentro de sua garagem do prédio e o mandante era o morador de alguns andares abaixo do seu. Já o havia notado no elevador antes, já havia até ajudado-o com mala e compras certa vez por isso sabia o número do seu apartamento.
Ficou perplexa. Muda. Desceu do carro num misto de indignação e desejo. Gente, desculpa, mas quem nunca sonhou com o príncpe no cavalo branco não é mulher. E lá estava ele, o príncipe sem o cavalo mas de terno e gravata, pasta, chave do carro e saquinho amassado da Casa do Pão de Queijo, lhe entregando tudo e entrando no seu carro... para ajudar a manobrar.
Manobrou. Em dois segundo seu carro estava fora da vaga desconfortável. Tirou a chave da ignição e a entregou pegando de volta suas coisas. Calado.
A dama ainda perplexa agradeceu. Sem reação mas com o batimento cardíaco alterado.
E lá se foi ele, rumo o horizonte seguiu o príncipe, exatamente como apareceu. Sem cavalo mas de terno e gravata, pasta, chave do carro e saquinho amassado da Casa do Pão de Queijo e monosilábico. Enigmático.
Se apaixonou é claro. Que mulher não se apaixonaria pelo belo estranho semi mudo e meio rude que a salvou do perigo?
Lembro até hoje quando vi Connan - o bárbaro pela primeira vez. Vamos combinar que o Arnold Schwarzenegger é um homem bem feio e estranho, mas quando ele salva a mocinha loira e linda no filme a gente se encanta. Tenho certeza que a Kennedy só casou com ele por isso. Assim como as mulheres parecem vir com programação de fábrica para desenvolver interesse pelos homens errados, elas também vêm com um genezinho errático que adora um homem que a salve do perigo, a pegue pela mão e/ou no colo.
Foram anos de feminismo e nada disso mudou porque é genético! E nem toda a Susan Sontag do mundo muda gene. Quem nunca olhou diferente para um amigo só porque ele te segurou pela mão para te ajudar a atravessar um bar lotado de malucos em segurança que atire a primeira pedra. Quem nunca se interessou por um maluco só porque ele comprou uma briga por sua causa? É daí que surgem esses casamentos a la Ana Maria Brega com o segurança que eu não lembro o nome.
Mas voltando, no momento piso em nuvens e pretendo fazer tocaia no subsolo me colocando em situações onde ele, o príncipe sem cavalo mas de terno e gravata, pasta, chave do carro, saquinho amassado da Casa do Pão de Queijo e monosilábico, possa ser o Fred da minha Daphne, que diga-se de passagem é mestra em ser a "dama em perigo" sempre muito bem vestida e penteada. E sempre é salva pelo Fred que é engomadinho mas comparece.
É isso, boa semana a todos.

sábado, 19 de julho de 2008

Torada em Madrid

Não...não são TORRADAS em Madrid, mas sim Toradas mesmo... com um R só...
Apesar de ser o programa mais clichê de uma visita à Espanha, nunca conheci ninguém que tivesse ido a uma tourada... Que pena, porque é o programa mais absurdo que alguém pode fazer na vida e se alguém tivesse me falado isso eu teria economizado tempo, dinheiro e agonia....

Senti-me perfeitamente no circo, como deveria ser no Império Romano... Como em pleno ano 2008 alguém ainda paga prá assistir a um animal sendo torturado?

É impressionante a capacidade de as pessoas vibrarem com a situação... E o pior, além dos que saíram na metade, eu acho que era o único a torcer pelo touro...prá que o toureiro levasse uma chifrada no meio da testa e todos gritassem de desespero...

A situação é absolutamente insólita: um assento de pedra absolutamente pequeno e desconfortável, um calor infernal, lugar cheio...e 30 euros o ingresso - quando fui era promoção, paguei só 5 - para gozar da imagem de um animal sendo sacrificado...

Deixo a imagem mais forte que consegui pegar, prá que possam imaginar o que estou falando... Hoje era o "debut" do toureiro em questão, que precisou de umas 30 tentativas prá conseguir terminar com o touro... e não conseguiu...

E lamento o atraso outra vez...estou sem internet frequente aqui.

Um abraço!




sexta-feira, 18 de julho de 2008

Coisa de adolescente?

Achei um tanto quanto engraçadas as reações de várias pessoas quando disse a elas que irei ao Playcenter no próximo domingo. Algumas riram, outras ficaram surpresas... a razão? Acham o Playcenter "adolescente" demais. Por um lado, eles têm razão. Afinal de contas, é este o público que costuma ir para lá. E mais: faz realmente bastante tempo que eu - e as pessoas que reagiram com surpresa - não vou para lá...
sei lá, acredito que será engraçado se divertir neste passeio "adolescente". Sentir-me um pouco mais novo... Já que o assunto é ser adolescente, houve uma época, quando eu ainda era adolescente, que assisti a uma série de filmes voltados para este público (eu, na época!). "Ela é Demais", "Nunca Fui Beijada" e um dos melhores filmes "teens", na minha opinião, "Dez Coisas que eu Odeio em Você". Lembro-me, porém, vagamente de "Curtindo a Vida Adoidado", clássico dos anos 80 - à época, eu era criança demais - e ainda preciso assistir a outro clássico daquela década, "O Clube dos Cinco" (certa vez, quase consegui assistir a este filme na TV a cabo, mas esqueci o horário).
Filmes com roteiros manjados, eu sei. Atores bem inexpressivos, em começo de carreira... mas, há um frescor, uma verdade naquela ficção. Ok, nerds x playboys, musculosos do futebol americano é uma realidade bastante americanizada, algo que não ocorre muito no Brasil.... de qualquer maneira, quem nunca se apaixonou pela menina mais cobiçada do colégio? Quem nunca quis saber se aquele garanhão realmente tinha uma boa pegada? Quem nunca percebeu que a menina escondida atrás dos óculos era a sua grande paixão?
Tudo coisa de adolescente...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

falta

sol. sorriso. olhar.
suspiro...
silêncio. tempo. reflexão.
telefone. risada. saudade.
saudade...
adrenalina. coração. gritos.
força. vontade. foda-se.
ingenuidade. bondade. felicidade.
feliz...
deuses. fé. crença.
intuição. sobrenatural. cósmico.
loucura. susto. riscos.
mais. menos. mais.
mais...
alface. manga. feijão.
corrida. basquete. suor.
papel. lápis. borracha.
teclas. campainha. alarme.
tesão. tesão. tesão.
tesão...
manhã. tarde. noite.
madrugada...
sono. sonho. somos.
somos...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Dias de sol






Hoje o dia foi de sol. E eu nem senti calor. Hoje o dia foi de pausa e eu trabalhei muito. Hoje o dia foi de dinheiro e eu fiquei triste. Fico triste assim, pelo que acontece e eu não sinto. Hoje o dia foi de paz e a paz quase me consola. Hoje o dia passou rápido. Eu lamento os dias que passam rápido. Gosto de dias que demoram. Gosto de dias que quase não acabam. Gosto de dias que parecem não ter fim. Gosto de dias em que eu sou longa. Da ponta à raiz. Gosto de dias em que sou balão solto. Gosto de dias que me empino, como pipa. Gosto de dias em que eu vôo. Dias rápidos são dias perdidos. Dias de sobrevivência são dias perdidos. Eu tenho tão poucos dias a viver. E você também. Eles precisam ser mais longos. Nada de bancos 30 horas, nada de fast, nada de delivery. Quero ir buscar, por mais longe que esteja, quero dos meus passos chegar. Que sejam sem sol, não importa. Sol é desculpa para esperar por dias melhores. Com ou sem sol quero dias meus. Que chova! Que mal tem um pouco de água? Quero dias frios, para sentir que minha pele está viva e que meus lábios racham. Quero dias de gripe, pra deitar na cama e ficar acordada. Quero dias de meias, pra sentir meus pés protegidos. Quero mais dias.

terça-feira, 15 de julho de 2008

BLADE RUNNER versus MATRIX


Por sugestão da Camila estou de novo escrevendo sobre cinema. Gosto do assunto e não perco a chance de dar minha opinião sobre filmes polêmicos. Nesse caso, são dois de ficção científica que causaram debates acalorados, então lá vai mais um pouco de lenha para a fogueira. Começo com Platão e acabo na religião. Não que sejam assuntos tão distintos.
O autor do livro A descoberta da Sombra citando Platão e o Sétimo Livro da República, sugere que os humanos pensam serem livres, entretanto como os prisioneiros acorrentados na caverna sua única realidade são as sombras. Ouvi sem querer a frase: qual pílula você escolheria a vermelha ou a azul? Minha bússola apontou para Matrix. No mesmo dia alguém citou Blade Runner, o caçador de andróides. Mera coincidência? Não sei... Pelo sim, pelo não, decidi escrever sobre isso.
A ação de Blade está baseada na luta entre unidades especiais da policia – Blade Runner Units – e replicantes. Deckard, o Runner do título, tem licença para matar as reproduções da fase Nexus-6. Eles são construídos a semelhança do homem, igualando-o em inteligência e superando-o em força e agilidade. A diferença está no prazo de validade: quatro anos de vida. Deckard acaba se apaixonando pela replicante Raquel e fugindo com ela. Os espectadores chegam à conclusão assustadora de que como os outros, ele era um andróide. No caso, eles se diferenciavam dos humanos, não nos aspectos tecnológicos, mas na sua relação com o tempo.

Matrix é mais filosófico, embora retome pelo menos duas questões embutidas no anterior. Se a inteligência artificial é possível e se o que nos rodeia é verdadeiro. Ao assistir Matrix saí do cinema com a desconfortável sensação que o herói não só não era o herói como no futuro se revelaria uma máquina, tal e qual Blade Runner. Talvez eu tenha errado, pois na seqüência, Matrix Reloaded, ele se descobre como o predestinado e salvador da população de Tzion, a última cidade habitada por humanos no mundo. Nesse filme recebe a missão de encontrar um chaveiro. De acordo com as profecias Key vai levá-lo ao núcleo da matriz. Isso acabaria com a guerra entre homens e máquinas. Vocês não estão entendendo nada? Vamos aos fatos. Thomas Anderson, funcionário de uma empresa de software, transforma-se à noite em um hacker habilidoso, de nome Neo. Sonha coisas sem nexo e recebe mensagens no monitor de seu computador alertando-o sobre sua vida estar correndo perigo. Você é uma peça importante no combate entre os mantenedores das aparências e os lutadores pela libertação da realidade, insinua Trinity. A história desenrola-se em um cenário simulado por computadores. As pessoas vivem em um mundo ilusório controlado pela matriz. Por isso a referência inicial as sombras, pois qualquer semelhança com a caverna de Platão não é mera coincidência. Lá eram as sombras, aqui são objetos imateriais existindo em dimensão virtual. Essa e outras citações filosóficas e religiosas são desenvolvidas no filme.
Larry e Andy Wachowski, os autores da trama, buscaram referências na filosofia oriental e ocidental, além da mitologia grega e em diferentes crenças religiosas. As pistas são facilmente identificáveis. 101 é o número do apartamento onde vive Thomas Anderson. É uma referência ao código binário 0101. Neo: pode ser lido como um anagrama de one, significando o único, o Messias. Tzion/Sion: é um dos nomes de Jerusalém. O Oráculo, criado para dar estabilidade a Matrix, foi quem alertou Morpheus sobre a existência de Neo, cuja função é re-tornar à Fonte do mal para destruir o mundo virtual e buscar a paz. Nesse momento, o jovem fica cego. Sua condição faz com que entre em contato com os poderes divinos, pois o não ver significa expansão de consciência, caminho para o mundo interior. Cego ele consegue chegar a sua essência e tornar-se a Merkavah/veículo divino. Como Merkavah ele pode curar, combater o mal, gerar energia e mover o mundo: homem/Deus ou Deus/máquina?

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Na fila do cinema

No final de semana fui para a festa de casamento de um grande amigo do tempo da faculdade. Era o último da turma que ainda estava solteiro. A festa foi de uma informalidade aconchegante. Pouca gente, convidados selecionados a dedo. O noivo calçava tênis, novinho. Rolou jazz a noite toda, com muito vinho, risoto e ótimas companhias. Conversas, lembranças e risos. Foi muito bom rever os grandes amigos. Lembramos de todos, dos que estavam lá com suas esposas, grávidas ou com filhos, e dos outros que não puderam ir, pois estavam cuidando dos seus recém-nascidos.

Isso me fez voltar a pensar no tempo. Como passa rápido! O grande cientista já dizia que o tempo é relativo. De fato. Tenho a percepção de que ele está ficando cada vez mais relativo, ou melhor, tem passado cada vez mais rápido, sem que eu perceba. Isso me agustia, me incomoda.

Minha lembrança mais distante é a aquela que aparece eu brincando perto de uma pequena parede da sala de casa. A visão é muito clara. Não sei quantos anos tinha, mas eram poucos. Minha mãe se agacha perto de mim e diz “filhinho, isso é uma tomada. Cuidado. Não coloque o dedinho ali porque dá choque!”. Logo vejo minha mãe saindo da sala. Volto meu olhar para a tomada e pronto! Tremeu tudo. Aprendi (na pele) o que significava choque. Sai correndo e chorando, é claro, em direção a minha mãe. Ela deve ter se perguntado “onde foi que errei?”. Por que será que essa é minha primeira lembrança? Será que o choque foi o início da minha auto-percepção ou foi forte suficiente para apagar da memória os registros ateriores?

Lembro quando meu pai não me deixou ir ao cinema (só queria ir porque meu irmão, dois anos mais velho do que eu ia) porque o filme era para maiores de 12 anos. Fiquei frustradíssimo. Naquele dia disse que quando tivesse quinze anos, seria o fodão. Alguns verões depois, estava o moleque lá, com quinze anos, e, aparentemente, nada de diferente. Ahhh.... tudo bem... me aguardem quando fizer 18. Vou pegar o carro e ...aí sim vou detonar. Algumas férias depois, estava lá, o mais novo habilitado a dirigir. E...? Muitas mudanças? Talvez nem tantas. Ahh...aguardem... quando fizer 21, aí sim! Aí já era... Será? ... Com um quarto de século não foi diferente. Nada...Tinha entendido, então: o negócio vai acontecer quando mudar o primeiro algarismo. Trintão. Bonito, hein!? ... tempo passando ... vida indo...

Lembro-me com frequência dos diálogos entre Nietzsche e Dr. Bauer em "Quando Nietzsche Chorou", em que o filósofo argumenta com o médico que se você não toma posse do seu projeto de vida, torna sua existência um mero acidente.

Será que ainda estou esperando para poder entrar no cinema?

domingo, 13 de julho de 2008

Em essência

"O desafio do teatro é ser vivo, interessante e tocar as pessoas; ultrapassar o nível banal que assola o mundo inteiro, ir além da facilidade do sórdido."
Peter Brook



Fui ver Fragments do Peter Brook meio ressabiada. Odeio quando ouvi mil comentários antes de ver qualquer coisa. Gosto do frescor, da objetividade (ou absoluta subjetividade) e desapego de olhos e ouvidos desavisados. Depois de ver uma peça, filme, exposição, sento para ler tudo o que se disse, antes prefiro ser eu e meus sentidos. Gosto deles e tendo a acreditar neles. Claro que já me enganei. Passei anos sentindo pouco cheiro. Mas isso já é outra história.
Lá fui eu ao Sesc Santana ver o Beckett que tentei ver em Paris e não consegui pois não estava finalizado ainda. Vi Hamlet quando o diretor inglês radicado na França pisou em terras tupiniquins pela primeira vez. E era impressionante. Tenho problemas com montagem do drama do príncipe dinamarquês. Amo o texto e sou super crítica. Saí embasbacada com a intensidade da montagem.
Vi Tierno Bokar três vezes não por opção mas por trabalho. Calhei de estar na produção de parte do evento, fazer o quê? E não vi Sizwe Banzi Est Mort poque não consegui convite e/ou ingresso.
E o Beckett de Brook é justamente o que eu gosto. Verborrágico e perdido nas próprias palavras, no mal do mundo, na incomunicabilidade, na solidão desse mundão de Deus sem Deus. O essencial, a ausência de firula, a despretenção... é tudo lindo.
É essa simplicidade que comunica com a platéia, sem gobo, sem mapas fenomenais de luz, mas com verdade, é isso que faz com que o ser humano sentado no escuro se sinta ligado e entenda (ou não!) o ser humano vivido no palco e é isso que está faltando no nosso teatro paulistano de tipos e baladas. Está faltando verdade e sem verdade não existe teatro.

Fragments reúne os textos “Berceuse” (ou “Rockaby”, em inglês) “Fragment de théâtre I” (ou “Rough for Theatre I”), “Acte sans paroles II” (ou “Act Without Words II”), “Va et viens” (ou “Come and Go”) e o poema, “Ni l’un ni l’autre” (”Neither”).
Inicialmente apresentada em francês, em outubro de 2006 no Teatro Bouffes du Nord, a peça foi remontada em inglês no Young Vic Theatre em setembro de 2007. Em junho de 2008 apresentou-se (em inglês, com legendas em português) no Festival de Londrina (FILO), Brasília e São Paulo e Rio de Janeiro.

“Beckett era um perfeccionista. Mas, pode-se ser perfeccionista sem ter uma certa intuição do que é a perfeição? Atualmente, com o passar do tempo, percebemos a que ponto todos os rótulos que lhe foram atribuídos no passado - desesperado, negativo, pessimista - são falsos. Beckett, na verdade, mergulha seu olhar no abismo insondável da existência humana. Seu humor o salva - e nos salva - ele rejeita as teorias, os dogmas que nada oferecem além de piedosos consolos. Na realidade sua vida nada foi do que uma constante e difícil pesquisa da verdade. Ele coloca as pessoas exatamente como as vê, na escuridão. Ele as mergulha no vasto desconhecido, observando através das janelas delas mesmas, nos outros, o olhar dirigido tanto para o exterior como para o interior, para o alto ou para baixo. Ele compartilha da incerteza delas, de seu sofrimento. O Teatro lhe dá a possibilidade de encontrar uma unidade na qual o som, o movimento, o ritmo, a respiração e o silêncio estão reunidos com exatidão. Ele pede para ele mesmo - um objetivo inatingível, que se alimenta de sua necessidade de perfeição. Ele penetra dessa forma no caminho raro que religa o teatro grego e Shakespeare ao tempo atual - celebrando sem compromisso a verdade, uma verdade desconhecida, terrível, espantosa.”, afirma Peter Brook.

Sinopse

“Rough for Theatre I”
Um circunspeto músico cego e um animado deficiente físico preso a uma cadeira de rodas com capacidade de recuperar rapidamente a alegria alcançam a condição de mútua dependência rubugenta.

“Rockaby”
Uma mulher solitária tenta ninar a si mesma, literalmente, até morrer, tanto fisicamente e por meio da sua fala repetitiva.

“Act Without Words II”
Num drama sem palavras, dois personagens emergem de sacos gigantescos para se submeter a uma cômica rotina diária de trabalho duro em estilo de cinema mudo. Arrastam a si mesmos uns poucos centímetros à frente a cada “empurrão da vida”.

“Come and Go”
Três senhoras idosas estão sentadas num banco de parque. Cada vez que uma sai, as outras duas compartilham um terrível segredo sobre ela.

FICHA TÉCNICA
Textos: Samuel Beckett
Direção: Peter Brook
Colaboração: Lilo Baur e Marie Hélène Estienne
Elenco: Marcello Magni, Hayley Carmichael e Khalifa Natour
Iluminação: Philippe Vialatte
Espetáculo produzido pelo C.I.C .T. / Théatre des Bouffes du Nord, Paris, e por William Wilkinson para Millbrook Productions em co-produção com o Young Vic Theatre, Londres


De artes...

E essa semana aproveitei que estava na região da Paulista assinando um contrato e fiquei por lá mesmo. A Paulista é inegavelmente o coração de São Paulo mas não é sobre isso que quero falar.
Toy art é um conceito in. Não sei até que ponto é muito arte mas todo mundo que conheço que é descolado tem um ou dois brinquedos daquele artista ou grafiteiro. Os bonecos, em sua maioria, são bem divertidos. Tirei até umas fotos com meu celular mas elas ficaram péssimas.
E já que o Sesc Paulista fica em frente ao Itaú Cultural, que tem um restaurante caro mas bem charmoso, atravessei a rua para almoçar.
Acabou de abrir no Itaú Cultural Emoção Art.ficial 4.0 - Emergência!, quarta edição da Bienal Internacional de Arte e Tecnologia. A mostra reúne 16 obras que "tratam da imprevisibilidade dos resultados em diversos ambientes" e tem coordenação de Marcos Cuzziol e Guilherme Kujawski.
Engraçado como assim como a questão de Toy Art como arte essa história de arte e tecnologia pode atravessar limites. Sai de lá confusa. Reformulando, saí da exposição mais confusa. Achei tudo genial em termos teóricos, em termos de processo, interação e inventividade mas muito pouco tocada enquanto ser humano. Claro que passaria o dia todo na sala de Reler da Raquel Kogan mas isso deve-se em boa parte ao meu fetiche por livros. Seja como for, as duas exposições valem uma visita.
E deixo abaixo como dica a programação da VERBO que começa essa semana na Galeria Vermelho e tem parte acontecendo no Centro Cultural São Paulo.



Toy Arte Mania
Sesc Av Paulista - Av Paulista 119 - Mezanino
De 5 de julho a 10 de agosto - de terça a sexta, das 13h às 21h. Sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h30.
Entrada franca

Emoção Art.ficial 4.0 - Emergência!
Itaú Cultural - Avenida Paulista, 149
de 2/7 a 14/9 - de terça a sexta, das 10h às 21h
Sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h
Entrada franca

VERBO
Galeria Vermelho - Rua Minas Gerais nº 350

TERÇA-FEIRA
20h30:: COMIDA / cris bierrenbach
21h:: ANDRÉA / massimo grimaldi e sabina grasso
21h30:: De 7 a 10 MANEIRAS DE PERCEBER SEU CORPO / rose akras

QUARTA-FEIRA
20h30:: DO PÓ AO PÓ / laerte ramos
21h:: EXISTE ALGUMA POSSIBILIDADE ÉTICA QUE NÃO ACENE AO TOTALITARISMO? / daniel fagundes
21h30:: MULTIDÃO ZERO / grupo bijari

QUINTA-FEIRA
20h às 22h30:: DRA. DIVA / juliana notari
20h30:: CEGO DE NOVO / marcio banfi
21h30:: LEILÃO DOS PIORES TRABALHOS DE ARTISTAS / daniel murgel

SEXTA-FEIRA
20h:: DIÁLOGOS / jaime lauriano
20h:: TALCO-TEC-TIC-TALK-SHOW / fabiano marques
21h:: ELETRO-QUIMICOS, BABY / thelma bonavita e cristian duarte

SÁBADO
11h às 20h:: - ENCHENDO LINGUIÇA / luiz alfredo guedes
- 10 X 10 CADERNOS INSTANTÂNEOS / renato hofer
- MEIO-DIA / tiago primo
15h:: OLÉ / 3D
16h:: VERBO PEOPLE / FrenchMottershead
16h30:: MÁQUINA DE DESENHAR / michel groisman
17h:: VERMELHO NA VERMELHO / Sissí Fonseca e Hugo Fortes
18h:: ALTA TENSÃO / Yiftah Peled
18h30:: ENCHENDO LINGÜIÇA (churrasco) / luiz alfredo guedes

TODOS OS DIAS
20h às 22h30:: - ART BASEL GENEVA SÃO PAULO / Cris Faria e Lukas Mettler
- MOITARÁ / OPAVIVARÁ! e GrupoUM
- LA PERFORMOLA / carlos monroy

Seminário: Verbo Conjugado
de 15 a 18/7 - De terça a sexta, das 14h às 18h - Entrada franca - CCSP - Rua Vergueiro nº 100 - Piso Flávio de Carvalho - Sala Zero (80 lugares)

dia 15/7 - terça - das 14h às 18h
Performance e documentação
com: Amilcar Parker (artista plástico), Rubens Machado Jr. (professor da ECA/USP) e Yiftah Peled (artista plástico) - mediação: Fernanda Albuquerque (curadora associada de artes plásticas do CCSP)

dia 16/7 - quarta - das 14h às 18h
Performance e reencenação
com: Laura Lima (artista plástica), Lucio Agra (poeta, performer e professor da PUC/SP) e Fabio Cypriano (jornalista e professor da PUC/SP) - mediação: Lara Pinheiro (curadora de dança do CCSP)

dia 17/7 - quinta - das 14h às 18h
Performance e resistência cultural
com: Luiz de Abreu (coreógrafo e performer), Celso Favaretto (filósofo e professor da USP) e Eduardo Vederame (artista plástico) - mediação: Daniela Labra (curadora e crítica de arte)

dia 18/7 - sexta - das 14h às 18h
Performance e dança, teatro, artes plásticas e música
com: Lenora de Barros (artista plástica), Wilson Sukorski (músico e multinstrumentista), Rose Akras (coreógrafa e performer) e Alice K (performer e diretora teatral) - mediação: Marcos Gallon (organizador da mostra Verbo na Galeria Vermelho)
Apresentação da performance interativa Sirva-se, com participação de Michel Groisman (diretor), de Gabriela Duvivier e da platéia.

sábado, 12 de julho de 2008

Dispensáveis

No início da semana li na Revista da Folha uma reportagem sobre os milhonários paulistanos que estão se mudando para os novos edifícios do Complexo Cidade Jardim e do Shopping Villa Lobos, que apesar de valerem bilhões, tem ZERO de atratividade e conseguiram ser menos empolgantes que a Daslu ou o Shopping Iguatemi para as pessoas normais...

Depois de ler o que li, realmente parece ser o que eles queriam.

Meio fútil o fato de eu escrever sobre o assunto, mas fiquei tão impressionado com alguns comentários, que resolvi colocá-los em debate, pois teoricamente as pessoas mais ricas da cidade são as que mais deveriam patrociná-la e torcer para que tudo vá melhor, mas não é o que acontece em São Paulo.

Os novos moradores do edifício estão felicíssimos em vivem num "bunker". A seus pés terão academia de ginástica, compras, restaurantes, delikatessens - duvido que vão ter supermercado - e um batalhão de seguranças armados para protegê-los... Vão poder fazer tudo o que gostam de fazer, sem precisar atravessar a rua ou sentir o odor da podridão do Rio Pinheiros, embora terão de olhar prá isso tudo o tempo todo de suas varandas amplas e ventiladas.

Será que basta? Será que se eu fosse milhonário também me privaria de experiências e situações que com certeza me fizeram ser quem eu sou? Pegar metrô lotado prá fazer compras nos Jardins... ou ir de carro novo no shopping ao extremo da Zona Leste para conseguir preços melhores... A vida não precisa resurmir-se à vida no Clube... É importante ver o mundo ao redor - ou ao menos a cidade - prá que possamos melhorá-lo, tornar-lo mais agradável a nós mesmos. Temos de ver e ouvir coisas diferentes prá sabermos enfrentar desafios... Não entendo bem o que essas pessoas esperam...

A entrevistada que mais me assustou foi a filha de alguém famoso que supostamente é arquiteta e diz estar SUPER contente de poder descer de seu apartamento e cair por um corredor no shopping villa lobos.

Estou enganado ou arquitetos existem para humanizar e transformar simples espaços ou instalações em ambientes agradáveis, funcionais... humanos? O que essa infeliz terá a acrescentar à arquitetura com a vida no "bunker" que vai levar? E vou além... Qual a diferença entre o complexo residencial que ela está morando - uns 10 prédios, pelo que contei ao passar próximo do local - e a verticalização da favela que a prefeitura está fazendo do outro lado do rio, além do tamanho do apartamento? Ela como arquiteta não deveria ser contra todo esse tipo de uniformização urbana? Não deveria buscar soluções novas?

Enfim... é um desabafo somente... Espero que ao menos nós que sabemos escrever ao menos - ainda que mal escrito, como no meu caso - possamos compensar a existência daqueles que acham que podem pagar por tudo.

Saudações a todos...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Desta vez, eu não me esqueci...

Tinha tantas idéias para escrever na semana passada... não que nesta semana elas me escapem... mas juro que fiquei triste em não ter postado na semana passada. O que dirão meus milhares de leitores? Enfim... talvez seja a idade. Ou não! Enfim, me esqueci... e vamos adiante, afinal de contas, idéias nunca me faltam... ainda quando é preciso escrever.
Contei que estou a fim de escrever um livro? Sim! Eu quero e irei... não será um romance. A princípio, minha idéia é escrever um livro de contos sobre as mentiras que os personagens que habitam em mim contam ou fingem viver. No entanto, vale dizer, algumas dessas mentiras, talvez, sejam a pura verdade. Ou, de repente, os personagens que habitam em mim são apenas um reflexo das pessoas que encontro pela vida... ou que deixo pela vida.
Já contei, também aqui, que tenho vontade de subir no palco e interpretar um texto. Tenho ido bastante ao teatro. Inclusive, o teatro tem me inspirado bastante. Primeiro, quero ter as vozes claras e em bom volume dos atores (isso, eu sei, já disse aqui!). Outro que frases soltas, belas, têm sido ouvidas por mim nas peças a que tenho assistido... sem contar que é uma outra viagem, muito diferente da do cinema.
Falando em cinema, Almodóvar é foda! Não assisti a nenhum filme dele nas últimas semanas, mas, ontem, eu fui assistir ao "maluco" "De Quem É Esta Cinta-Linga?", dirigido pelo roqueiro Fito Paéz. Não tinha ingresso, mas consegui um por meio da assessora do Festival de Cinema-Latino. Sim, imprensa tem suas vantagens... o cara bebeu muito das características almodovarianas, o que é sempre ótimo!
Falando em jornalismo, ser jornalista, pelo menos para mim, tem sido prazeroso. Em uma semana, entrevistei dois artistas dos quais gosto bastante: Murilo Salles, diretor do recomendadíssimo "Nome Próprio" (que estréia na sexta que vem!), e a cantora Rita Ribeiro... fofa, folclórica, filha de todos os orixás... amém! Inclusive, vou ao show dela amanhã... certeza que irei chorar quando ela cantar a linda "Musak", escrita pelo Zeca Baleiro...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

pôquer

entre fumaças, biritas baratas, alguns petiscos e muito clima noir, jogavam pôquer a dor, a solidão, o amor e a angústia.
já era praxe: todas as sextas, juntavam-se após o expediente para bater o carteado.
cada um trazia suas preferências, rolavam algumas coisas de imprevistos – se fosse o caso, pediam pizza. o importante era a jogatina.
as apostas eram altas. almas em jogo.
a diferença é que os jogadores não se importavam em ganhar ou perder. naquela mesa redonda com toalha verde-musgo, o importante era se divertir.
ah, e eles se divertiam.a dor, por exemplo, babava enquanto gargalhava ao perder 20 almas numa só jogada para a solidão. “esses aí já se acostumaram comigo. é melhor mesmo terem algo diferente para sentir”, falava a bastarda, enquanto a solidão (vestida impecavelmente com uma saia preta curtíssima, um top vermelho sangue de decote generoso e uma cruz prateada que marcava a fronteira entre os enormes seios) sorria de lado e já recolhia o prêmio.
a angústia já era mais prudente (mas, nem por isso, menos aventureira): se tinha uma boa mão, apostava as almas mais atormentadas; se blefava, colocava na mesa um possível suicida – a dor, via de regra, se deliciava com isso.
a solidão gostava de número – ironia ou não, é verdade. mas, se perdesse, cagava quilos: afinal, conseguir moeda de jogo não era ter que fazer empréstimo no banco a juros altos – sempre encontrava gente para trazer para o seu lado.
o amor, não: único macho na mesa, ele era mais vulnerável – e estúpido. apostava sem distinção: 30 almas por vez, 50, chegou a colocar 169 pessoas num blefe – e se fodeu.
amigos, via de regra, o amor tomava no cu.
depois, quando perdia, choramingava, exagerava na birita, fumava descontroladamente. ria como todo mundo – mas com um certo nervosismo. se apegava às almas, mas só percebia isso quando elas cruzavam a mesa verde-vusgo, dizendo um tchau amargo.
justo pra ele, que tinha a despedida como vizinha – e aquela vadia jogava o lixo no quintal dele.
com o tempo, o amor ficou viciado no jogo. E também na bebida. já não fazia mais a barba, os ternos eram cada vez mais raros, aparecia aos jogos amarrotado, cheio de olheiras. mas estava lá, sempre disposto a apostar todas aquelas almas, aquelas almas que ele tanto amava – mas que só descobria isso depois de elas caírem no decote da solidão (sim, a solidão percebia quando o amor blefava, era sua maior adversária).
enquanto isso, angústia e dor riam. ao amor, restavam as lágrimas.
quem sabe na sexta que vem.

quarta-feira, 9 de julho de 2008


Desculpem, na ausência de algo a dizer, deixo a imagem!

terça-feira, 8 de julho de 2008

A pinga do príncipe Joãozinho...



As democracias européias têm seus nobres. Alguns sonham com a volta ao trono. No Brasil existe um grupo de monarquistas ainda hoje, onde se destacam os Cunha Bueno, pois nós também possuímos uma família real. Duas alas discutem quem é o herdeiro do trono. Meu candidato é João de Orleans e Bragança. Ele é a pessoa adequada para governar o Brasil, caso volte o parlamentarismo. Pelo menos João, um fotógrafo de talento, administra com sucesso uma pousada e um alambique em Paraty. O príncipe trabalha. Isso revela o caráter do homem para quem a nobreza não está nem no sangue nem no nome. Mas, vamos ao assunto. A cachaça esteve presente nas mesas da aristocracia portuguesa desde os tempos de D.Pedro II. Dentro dessa tradição, João de Orleans e Bragança, dono de muitos metros quadrados de cana, resolveu produzir a Maré Alta, bebida artesanal com a chancela da família real. Existe uma diferença entre cachaça e pinga. A primeira é feita a partir do melaço da cana, enquanto a segunda é fabricada com a garapa destilada que depois da fervura “pinga” na bica do alambique.
Essa introdução serve para colocar o leitor no contexto da seguinte história. Uma amiga bauruense foi participar da sexta FLIP- Festa Literária Internacional de Paraty na semana passada. Ouviu a cineasta argentina Lucrecia Martel e Richard Price falarem das relações entre cinema e literatura. Prestou muita atenção na psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco narrando à trajetória da perversão, da Idade Média aos dias atuais, enquanto aproveitou para passear na bela Paraty.
De volta a Bauru, ela saiu para tomar café com alguns conhecidos e de repente começou a contar a seguinte história: quando Deus estava distribuindo terras pelo mundo, o diabo reclamou sua parte. O Senhor apontou para um pedacinho de terra entre o céu e o mar e disse: é para ti. O clima estava exaltado no céu e na confusão e expulsão dos anjos ruins, satanás acabou não aceitando o presente e foi para os quintos dos infernos. Deus então transformou aquele ponto em um pedaço do paraíso.
Perguntei-lhe quem inventou isso e Ju Machado respondeu: o Joãozinho.
Ela conhecia o Joãozinho 30, pensei.
Aproveitando a pausa foi logo despejando: fui num sarau na casa do príncipe.
Meus olhos quase saltaram das órbitas. Liguei então o Joãozinho dela ao meu candidato a rei do Brasil, João de Orleans e Bragança. Descrevendo o cenário falou nos jardins iluminados com velas e na bebida servida: a Maré Alta. Repetiu o relato sobre o fungo “sacoharomyces cerevisiae” principal agente da fermentação de bebidas. Na opinião dos especialistas o humilde fungo unicelular pertence ao reino biológico dos encariotos, um grupo onde estão os seres humanos. No começo até duvidei, mas depois cheguei à conclusão que só podia ser verdade, afinal aquilo é o paraíso e lá vive e trabalha – atente para o detalhe – o herdeiro do trono brasileiro.
Minha refinada amiga está mais para o champagne do que para a cachaça, por isso o Jair meio em dúvida questionou: você bebeu? Sim, a noite toda. Deu nota 8.0 para a iguaria, pois não simpatizou muito com o Sr. Judas Escariotes, o gerente do alambique. E foi logo explicando que um dos palestrantes entrou dando cambalhotas. Falou também de um “gato rosa Xuxa” parado feito uma estátua perto de uma árvore. Vocês acreditam? Palestrante que em vez dos pés põem as mãos no chão e gato cor de rosa? Só podia ser a pinga do Joãozinho fazendo efeito. Nota oito para uma bebida com selo real. Sei não...

domingo, 6 de julho de 2008

Sem memória



"I'm just a fucked-up girl who is looking for my own peace of mind. Don't assign me yours."

Enlouqueceu na primeira vez que o viu passar. Nunca mais foi a mesma. Lembra até hoje com clareza. Ou talvez tenha imaginado, criado, moldado, distorcido a lembrança como argila. Memórias são tão mutáveis, deslizam pelo dedo com tanta desenvoltura. Não tem mais tanta certeza assim. No corredor. De jaqueta amarela, mão fina e relógio grande. Não desistiu até o ter. E não demorou nada, gabou-se. E tudo deu errado. E tudo deu certo. E errado novamente. E o tempo foi passando. Ele entrou e saiu da sua vida tantas vezes que já perdeu a conta. E todas elas foram definitivas. Houveram sim outras paixões. De ambas as partes. Mas sempre, em algum lugar, o reencontro. Hora em uma festa ao acaso nessa cidade tão grande. Outra no cinema. O acaso sempre lá. Real ou imaginado. Nunca houve consenso, essa é uma das poucas certezas que carrega. Nunca houve amor. Somente madrugadas insanas e muitas palavras. Tantas palavras. Palavras, palavras, palavras. Realidade, ficção, palavras... Afeto, ele diz ao telefone mais uma vez. Vício, ela admite mais uma vez na noite. Febre. Chora, dorme e almaldiçoa o dia em que o viu passar e desejou aquela mão fina pela primeira vez. Por que não existe clínica de desentoxicação de pessoa? AA, igreja ou grupo de ajuda para exorcizar o corpo do outro? Remover a presença, matar o desejo, trucidar qualquer sentimento que não seja indiferença. Sim, já desejei poder dormir e acordar sem memórias como em O brilho eterno de uma mente sem lembranças. Já desejei não o ter conhecido, já desejei... tudo para não sentir essa amargura no peito mais uma vez.



Minha postagem de hoje era orginalmente sobre arte contemporânea e a exposição Transitory Object for Human que traz 12 obras interativas da artista sérvia Marina Abramovic, feitos para ser interativos, os trabalhos são compostos de cristais, cobre, ferro, alumínio, ametista, quartzo rosa, lápis-lazúli, flores desidratadas e cabelo humano...



Transitory Object for Human
de terça a sexta, das 10h às 19h e sábado, das 11h às 17h
Galeria Brito Cimino - Rua Gomes de Carvalho, 842, Vila Olímpia
até 2 de agosto - entrada franca

sábado, 5 de julho de 2008

Sem título

Tem umas semanas, dias, meses na vida que são estranhos... Acho que estou num desses períodos. Olho prás trás, procurando o que eu fiz de interessante nas últimas duas semanas e levo uns 2 segundos prá saber que a única coisa foi um concerto no domingo passado que na verdade também serviu prá deprimir-me um pouco. Não é legal você ver CRIANÇAS de uns 12-14 anos apresentando-se na Sala São Paulo na formatura da Academia da Osesp, enquanto o máximo que você toca é La Bamba no violão.

Meus dias têm sido de tanta inutilidade que nem escrevi no blog na semana passada... Aliás, tinha escrito mas esqueci de publicar. Fui ler novamente quando ia publicar no domingo e achei tão imbecil o que estava escrito que decidi dar um skip no meu dia. Peço desculpas aos colegas escritores e aos leitores.

Estou numa vida de acordar as 5:30 por opção prá ir pro trabalho sem trânsito, voltar prá casa somente às 19:00 prá não pegar trânsito, comer, ver novela, jogar videogame e ir dormir... Repita essa rotina prá sexta e sábado, com uma agradável tarde de domingo na sala São Paulo, mas sem poder beber depois por causa da Lei Seca...lembrem-se disso.

Repitam a rotina prá essa última semana e terão uma idéia dos meus últimos 13 dias.

Durante a semana, a empolgação era tanta que me peguei lendo um texto com título "Psicologia do Elevador" (Revista Mente e Cérebro, edição 185 - Junho 2008) e descobri que alguns ESTUDIOSOS observaram o comportamento das pessoas em elevadores e chegaram a algumas conclusões fundamentais prá que a humanidade siga seu caminho. Esse foi o ápice (existe essa palavra? Se sim, é assim que escreve?) da informação da semana.

Segundo as pesquisas, a posição preferida por 47% das pessoas, quase dois terços das quais do sexo masculino, é aquela próxima à parede oposta à porta, ou no máximo ao centro. a prática, uma posição de poder. Isso é confirmado pelo fato de que oito em cada dez pessoas das que ficam diante da parede posterior assumem duas posturas típicas de comando: braços cruzados, sinalizando a interdição à aproximação alheia, ou com as mãos apoiadas na cintura.

Cerca de 30% dos passageiros solitários, com predomínio do sexo masculino, se colocam diante da porta - os front runners, porque sim...há uma classificação para as pessoas dentro do elevador - e a maioria com o nariz a apenas 20cm da porta, demonstrando certa ansiedade e impaciência.

Os 24% restantes se posicionam mais ou menos igualmente à esquerda ou à direita da porta, com ligeira preferência pelo lado em que se encontra o painel.

As coisas mudam quando se trata de elevador já ocupado por um ou mais passageiros. Se a pessoa que já está dentro se posicionou no fundo, os recém-chegados se colocam no lado da porta, à direita ou à esquerda. Também se comportam dessa forma aqueles predispostos a ocupar a posição do fundo quando estão sozinhos. Apenas 2% forçam a situação, ocupando a parede do fundo e obrigando o outro a se espremer em um dos dois ângulos, simulando uma espécie de guerra territorial.

Os front runners, que estão com o nariz perto da porta, não mudam muito seu comportamento quando encontram alguém no fundo: colocam-se sempre na proximidade da saída, mas ligeiramente de lado, de modo a deixar espaço para quem está atrás sair rapidamente, possivelmente como eles mesmos fariam. Se, no entanto, a pessoa que já está dentro escolheu um dos ângulos, a que entra tende a manter a mesma atitude, ocupando o espaço que lhe é mais adequado.

A coisa se complica um pouco se o elevador está cheio. Em geral, pode-se afirmar que o indivíduo que entra ocupará o espaço livre disponível, dando preferência à sua própria inclinação quando está “solitário”. Se no elevador estiverem quatro pessoas, nenhuma delas diante da porta, em 90% dos casos o quinto será o front runner, abrindo mão do que teria feito se estivesse sozinho. Apenas uma minoria dos que entram em um elevador lotado tentará se posicionar em um espaço estreito, constrangendo os outros a se deslocar e causando certo aborrecimento aos demais


A revista ia além, reforçando a idéia de que tudo isso tem a ver com o Homo sapiens e o Homo erectus e os animais que têm de demarcar território.. Enfim... Li até o final mas não acreditava que tinha lido 9 páginas sobre o assunto.

No entanto, ao menos achei alguém cuja semana também não tinha sido cheia de idéias, mas conseguiu encher algumas páginas com alguma coisa...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

queda

a roupa fedia.
tinha aquele cheiro forte de solidão.
quando mistura com aquela sensação de alma despedaçada, fica insuportável estar perto.
a vontade dela era sair do próprio corpo. rasgar a pele violentamente. tchau, até o carnaval.
tempo implacável, caleja qualquer músculo. não havia mais dor, nem lágrima salgada.
só a sensação de desejo escorrendo pelas mãos.
o vento gelado cortava o rosto. antes fosse o coração. em zilhões de pedaços.
pequenos. vermelhos. em putrefação.
mas não. ela se protegia. tinha esperança.
vá-vá-vá.
nem sabia o que era esperança. quanto mais saber que tinha uma porra dessas no bolso esquerdo do jeans.
alimentava aquele sonho juvenil, quase ingênuo, puro feito opinião de criança.
aquela coisa de querer ser feliz, saca?
besteira de revistinha de horóscopo.
com a lua brilhando no céu, viu seu eu em outro.
mas fez questão de ficar do outro lado da calçada.
assistiu, de camarote, o amor ser estuprado por dois mendigos - bandidagem nova na cidade.
clamava àquele deus caricato, cheio de barba na cara e onipotência no agir, por algo.
qualquer coisa.
qualquer.
sem resposta. deixa recado na caixa postal, por favor.
não tinha pra onde correr.
pra quem correr.
pra quê correr?
sabia o destino.
próxima estação: apaixonar-se de novo.
o trem vinha sempre lotado.
e voltava cheio de vazio.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Vende mais por que é mais fresquinho ou é mais fresquinho por que vende mais

Ribeirão Preto sediou no final de junho a Oitava Feira do Livro. É uma feira grande, organizada e que traz grandes nomes da literatura para a cidade. Além do privilégio de mediar a palestra do Zuenir Ventura (que lança 1968 - o que fizemos de nós? ), e do Marçal Aquino, pude também assistir a vários autores interessantes. Antonio Prata, escritor jovem, seis livros já publicados, surpreendeu pelo carisma, simpatia e bom humor. Falou sobre o mercado editorial no Brasil. Disse que publicar livros é muito fácil, o difícil é vendê-los.


Marçal Aquino, outro escritor e roteirista de cinema consagrado (Cheiro de Ralo, Invasor) disse a mesma coisa. Marcia Tiburi, filósofa que mostrou uma inteligência ácida, porém admirável, em sua palestra, disse a mesma coisa. Acaba de lançar mais um livro. "Publicar é fácil, difícil é vender". Esses três e mais alguns dizem, afirmam e reafirmam que não vivem de literatura. Não! Não ganham dinheiro com seus livros. Pudera. Preste atenção na tiragem dos livros nacionais que você lê. Tirando grandes "monstros" como Paulo Coelho, poucos deles têm tiragem maior do que 5 mil exemplares. Se contar que o escritor fica com 10% do valor de capa, uma média de R$ 45,00 cada livro, fica difícil mesmo viver de literatura.


Perguntei a Antonio Prata porque ele acha que o brasileiro compra tão poucos livros. Ele disse que não sabia. Perguntei então se o baixo poder aquisitivo do brasileiro não ajuda as vendas serem tão baixas e ele respondeu algo que me pegou de surpresa:


_ Sim, o brasileiro é pobre. Mas compra tevê de plasma em 22 vezes! Nunca se vendeu tanto carro no Brasil como se vende hoje. Nunca se vendeu tanto tênis Nike no Brasil como se vende hoje. Então onde o pouco dinheiro é gasto é uma questão de prioridade. E ler não é prioridade para o brasileiro.


É verdade. Um triste verdade. Eu, por exemplo, estou sem carro no momento, mas minha prateleira de livros continua cheia.


Realmente o brasileiro tem que escolher o que comprar. Mas aí eu fico pensando sobre uma teoria séria, a Teoria Tostines. É fresquinho por que vende mais ou vende mais por que é mais fresquinho? Sim, cadê as propagandas de livros? Cadê out doors de grandes editoras, de grandes lançamentos? Por que no intervalo do Jornal Nacional não se veicula propaganda de livros como se veicula dessas infernais companhias de celular? Por que não gastar 3 minutos em horário nobre para falar dos últimos lançamentos de uma editora, como se faz com pastas dentais que evitam 12 problemas bucais.


Não sei! Há alguma lei que proíba propaganda de livros, livrarias, editoras? Se alguém souber, por favor me informe. Considero a possibilidade de ignorar a informação, sinceramente.


Mas que é espantoso é! Imagine só, página dupla na CARAS para o lançamento do último livro do Marçal Aquino. Duas páginas da Veja São Paulo falando dos últimos lançamentos que estão na Saraiva? Por que não? Então o brasileiro não lê por que não pode comprar livro e por que não é incentivado para tal, ou não pode comprar livro justamente por que nunca leu?


Mas que tolice a minha... Num país em que o presidente Lula se orgulha de nunca ter aberto um livro na vida e mesmo assim ter chegado onde chegou e eu querendo propaganda de livros na tv, revistas, jornais, rádios e out doors.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Indiana Jones e a Caveira de Cristal


Vontade de falar de Indiana Jones. Vi o filme e adorei! O roteiro parece meio bobo não é? Porém, o fato desencadeador da história é verdadeiro. Em 1947 houve um grande alarde nos Estados Unidos em relação a um objeto não identificado caído na região conhecida atualmente, como Área 51. Ela abriga instalações militares onde supostamente estão os destroços dessa nave espacial, além de sediar estudos sobre o mundo extraterreno.
No filme, a trama acontece em 1957, auge da guerra fria e da perseguição aos comunistas pelo Comitê Parlamentar das Atividades Antiamericanas. Nessa época, Arthur Miller denunciado por Elia Kazan foi condenado por desobediência ao congresso, ao não revelar nomes de supostos membros do Partido Comunista no meio artístico. Portanto, Lucas e Spielberg tocaram de leve em duas questões distintas: as atividades do Comitê e do complexo Dreamland. Mas, vamos divagar um pouco sobre o filme que começa onde terminou o primeiro Indiana. Um observador atento vai poder ver a arca contendo as tábuas com os dez mandamentos de Moisés. Nesse armazém são guardadas caixas com conteúdo ultra-secreto. A partir do mote envolvendo extraterrestres, deuses e russos, o arqueólogo acaba nas pirâmides maias e astecas, onde estão escondidas as tais caveiras de cristal. A cena da nave indo para o espaço fecha o círculo iniciado no armazém. Ficam as perguntas: sobre o ocorrido em 1947, na Área 51 e qual a causa de tanto segredo por parte do governo americano sobre fatos ditos corriqueiros. O cineasta estaria insinuando que eram os deuses astronautas?
E por último, afinal, qual a função da Área 51?
Nome dado a uma instalação militar conhecida como Dreamland, ela comporta experiências secretas com energia nuclear. Foi criada em 1947, ocupando uma área de 155 km quadrados, no Condado de Lincoln. O local abriga UFOS acidentados e resgatados em todo o planeta, dizem os ufólogos. O complexo principal tem uma estrutura básica quase toda alojada abaixo da terra, em prédios subterrâneos de mais de vinte andares. A unidade gigantesca é tão secreta não constando em qualquer mapa, seja civil ou militar. O governo reconheceu sua existência na década de 1970 devido a fatos não comprovados. Circulou na imprensa que extraterrestres mantidos prisioneiros se rebelaram e mataram alguns cientistas da base aérea.
Verdade? Ninguém sabe. De concreto só as imagens do Google Earth e da empresa soviética Agência de Aviação e Espaço Sovinformsputnik feitas na década de 90. Elas revelam um campo de pouso e decolagem de 9 km de extensão, um dos maiores aeroportos do mundo, a menos de duas horas de Las Vegas, pela rodovia NV-93. Inacreditável não é? Por que se necessita de uma pista com esse tamanho em pleno deserto de Nevada?
A Área 51 é assunto de constantes programas na mídia americana. Hollywood costuma satirizar a questão através de filmes. A maioria, dos cientistas americanos acredita que a Força Aérea esteja fazendo testes com aviões secretos, mas eles afirmam não existir nada de extraterrestre nisso. Faz sentido, mas onde há fumaça...