terça-feira, 24 de junho de 2008

Dos modos da moda...



Dia desses usei um velho vestido azul Klein com um lenço, jogado no ombro, onde estava estampado um quadro de Klimt. Eu costumo quebrar a formalidade de algumas roupas usando sandálias de plástico, às vezes assinadas pelo Herchcovitch, mas são de plástico como as Havaianas, das quais tenho uma de cada cor. Outras vezes, transformo a informalidade de uma bermuda ou jeans com blazer ou camisa de seda. Minha maneira de vestir é diferente e isso se deve ao fato de trabalhar com cultura e freqüentar um grupo criativo em tudo, até nos trajes. Ouvi um comentário e não tive tempo de responder.
Graças a Deus, diria Luciana.
O Jair falaria: ela me lembra Anäis Nin.
O Marcelo, de forma blasé, daria de ombros.
A Jacqueline disse: ela é fashion como toda designer, chamando atenção para a fita do seu cabelo e para o meu lenço.

A discussão passou para ele e à maneira como as mulheres o estarão usando neste inverno. Uma amiga paulistana costuma colocar dois anos de diferença entre nós. Eu antecipo a moda em um ano e ela compra em liquidações, daí o diferencial. Eu ria e ficava me questionando o que seria moda. Para os sociólogos é um fenômeno cultural consistindo na mudança periódica e coercitiva de estilo. A maioria das pessoas acredita ser uma proposta para uma estação. Vejo como uma renovação no estilo pessoal de cada um. Um vestido usado na formatura do meu irmão há mais de vinte anos foi transformado em um blazer inspirado em outro visto na coleção da Maria Bonita. Simples assim... E a peça que deu margem ao comentário está no meio da canela, pois tem uns quatro anos, embora pareça atual. É um comprimento esquisito, mas gosto dele, talvez por pensar no comentário do Jair, Anäis Nin, hein? Por dentro ou por fora?

Antigamente existia uma forte homogeneidade de gosto, por influência da Alta Costura. Hoje esse segmento não veste três mil mulheres ao ano. O prêt-à-porter,de nome francês e invenção americana predomina. Os estilistas vendem seus desenhos. Eles são reproduzidos, fazendo com que as lojas (às vezes, os camelôs) tenham esse produto pronto antes dos desfiles nas semanas de moda. Desfiles transformados em happenings, para não dizer circos. Mesmo assim, costumo babar em frente às passarelas na São Paulo Fashion Week. Mas, voltando à questão qual seria meu estilo, dentre todos os citados? Todos e nenhum, pois sou única e a moda permite individualizar cada peça. Hoje se emprega o termo costumizar às mudanças dos usuários em suas roupas. Isso não é novidade. Há mais de cem anos as parisienses faziam o mesmo. Iam aos desfiles, encomendavam e pediam modificações. Só as estrangeiras compravam e usavam o original. Mas, cadê a definição? Bem, sou colorida... Atentem para o detalhe de cor, não de Collor, viu? Gosto de um pretinho básico, mas adoro cores e lenços. Minha herança africana? Talvez, pois de acordo com Gilberto Freyre todos os brasileiros possuem o sangue das três raças que compõe nossa etnia. Teria eu alguma coisa de original? Não creio, pois todo ser humano carrega uma matriz de nome inconsciente coletivo e isso deve fazer a diferença. Dentro do meu estão à irreverência e a insubordinação às regras, uma possível herança da outra Rosa, minha maravilhosa bisavó.

5 comentários:

Janaina Fainer disse...

nossa, sabia que a anais nin é uma das minhas escritoras favoritas? amo os diários... queria todos mas só tenho um.
beijos

Camilla Tebet disse...

Que lindo Rosa, como vc se definiu através de moda de forma bonita. Adoro essa coisa de moda individual, de estar por dentro de tudo e fazer com que cada pedacinho do que vestimos diga um pouquinho de nós. Anais Nin, amelie Polan ou Carrie Bradshaw.. um pouquinho de nós, usando da arte que é a moda não é?
Adorei.
beijos carinhos pra vc.

Mariah disse...

amiga, também tenho notado isso. e fico extremamente feliz.
quando era adolescente...dá-lhe aí uns 20 anos...todo mundo usava a mesma marca de calça, a mesma mochila, o mesmo tênis...hoje, o legal é ser diferente...mas será que isto também não é um modismo?

tem gente que qualquer coisa que veste fica legal. eu trabalho com eventos, vivo de terno preto..qualquer coisa diferente que visto, me sinto um papagaio.

beijos
mariah

Br disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Br disse...

ops!
passei por seu blog e ja me senti em casa.
Você antecipa a moda a seu modo de ser. E eu amo isso nas pessoas elas se vestirem, fotografarem, não como a sociedade quer para tal momento. Amei seu Post

Bjos Ráh