terça-feira, 8 de julho de 2008
A pinga do príncipe Joãozinho...
As democracias européias têm seus nobres. Alguns sonham com a volta ao trono. No Brasil existe um grupo de monarquistas ainda hoje, onde se destacam os Cunha Bueno, pois nós também possuímos uma família real. Duas alas discutem quem é o herdeiro do trono. Meu candidato é João de Orleans e Bragança. Ele é a pessoa adequada para governar o Brasil, caso volte o parlamentarismo. Pelo menos João, um fotógrafo de talento, administra com sucesso uma pousada e um alambique em Paraty. O príncipe trabalha. Isso revela o caráter do homem para quem a nobreza não está nem no sangue nem no nome. Mas, vamos ao assunto. A cachaça esteve presente nas mesas da aristocracia portuguesa desde os tempos de D.Pedro II. Dentro dessa tradição, João de Orleans e Bragança, dono de muitos metros quadrados de cana, resolveu produzir a Maré Alta, bebida artesanal com a chancela da família real. Existe uma diferença entre cachaça e pinga. A primeira é feita a partir do melaço da cana, enquanto a segunda é fabricada com a garapa destilada que depois da fervura “pinga” na bica do alambique.
Essa introdução serve para colocar o leitor no contexto da seguinte história. Uma amiga bauruense foi participar da sexta FLIP- Festa Literária Internacional de Paraty na semana passada. Ouviu a cineasta argentina Lucrecia Martel e Richard Price falarem das relações entre cinema e literatura. Prestou muita atenção na psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco narrando à trajetória da perversão, da Idade Média aos dias atuais, enquanto aproveitou para passear na bela Paraty.
De volta a Bauru, ela saiu para tomar café com alguns conhecidos e de repente começou a contar a seguinte história: quando Deus estava distribuindo terras pelo mundo, o diabo reclamou sua parte. O Senhor apontou para um pedacinho de terra entre o céu e o mar e disse: é para ti. O clima estava exaltado no céu e na confusão e expulsão dos anjos ruins, satanás acabou não aceitando o presente e foi para os quintos dos infernos. Deus então transformou aquele ponto em um pedaço do paraíso.
Perguntei-lhe quem inventou isso e Ju Machado respondeu: o Joãozinho.
Ela conhecia o Joãozinho 30, pensei.
Aproveitando a pausa foi logo despejando: fui num sarau na casa do príncipe.
Meus olhos quase saltaram das órbitas. Liguei então o Joãozinho dela ao meu candidato a rei do Brasil, João de Orleans e Bragança. Descrevendo o cenário falou nos jardins iluminados com velas e na bebida servida: a Maré Alta. Repetiu o relato sobre o fungo “sacoharomyces cerevisiae” principal agente da fermentação de bebidas. Na opinião dos especialistas o humilde fungo unicelular pertence ao reino biológico dos encariotos, um grupo onde estão os seres humanos. No começo até duvidei, mas depois cheguei à conclusão que só podia ser verdade, afinal aquilo é o paraíso e lá vive e trabalha – atente para o detalhe – o herdeiro do trono brasileiro.
Minha refinada amiga está mais para o champagne do que para a cachaça, por isso o Jair meio em dúvida questionou: você bebeu? Sim, a noite toda. Deu nota 8.0 para a iguaria, pois não simpatizou muito com o Sr. Judas Escariotes, o gerente do alambique. E foi logo explicando que um dos palestrantes entrou dando cambalhotas. Falou também de um “gato rosa Xuxa” parado feito uma estátua perto de uma árvore. Vocês acreditam? Palestrante que em vez dos pés põem as mãos no chão e gato cor de rosa? Só podia ser a pinga do Joãozinho fazendo efeito. Nota oito para uma bebida com selo real. Sei não...
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3 comentários:
Que delícia de texto. Só faltou estar em Parati tomando a tal pinga. E olha que nem precisava ser com nenhum membro da família real. MAs que um candidato a rei trabalhar é bom, ah isso é! Dá até uma pontinha de esperança. Bela lição pra aquele pinguço (que só deve conhecer 51) ....
Delícia de texto.
e não é que a tal pinga custa R$ 40 a dose e entre R$ 300 e R$ 2 mil a garrafa? juro!!!!!!
a produção foi descontinuada em 2003 e agora é item de colecionador... e custa os olhos da cara...
como eu não gosto de pinga estou OK
pra gente que tem Lula como presidente, nem ia estranhar muito ter um "cachaceiro" como príncipe né?
e ainda sairíamos ganhando...pois o cara é um "gato".
beijos
mariah
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