ele acordou, nem era tão cedo.
banho, escovar dente, calça, camiseta, tênis.
na hora do café, viu: não tinha amor.
puta que pariu.
foi até o supermercado. tinha acabado.
na venda do seu wanderley, também.
no posto 24 horas, também.
bateu na porta da vizinha, ela também não tinha.
de repente, estava em todos os canais de tv.
as rádios anunciavam.
a internet narrava como se fosse jogo do brasil.
amor em falta.
as pessoas, enfurecidas, invadiam armazéns.
saqueavam culpa, dor, inveja, tudo o que viam pela frente.
tiros. gritos. explosões.
um iraque. uma guerra. exército nas ruas.
em pouco tempo, muitos já eram zumbis.
olhos fundos, andar torto, mortos a vagar.
cena de filme do george homero.
na sala, começou a se desesperar.
procurou em gavetas, sacolas, dentro de malas.
nada.
saiu de casa. precisava de amor. tinha que arriscar.
pegou o carro. quinta marcha. cinco atropelados.
highway.
rumou pela cidade seguinte. e pela seguinte. e por várias outras.
nada. nem pó de amor.
rodou dias. trocou de carros. não trocava nem de roupa.
de repente, em uma cidadezinha, encontrou.
mãe, filha, marido.
sentia o cheiro de longe. até salivava a boca.
era amor.
saltou ligeiro do carro.
derrubou o marido. espancou a mulher.
ficou frente a frente com a criança.
e caiu, morto.
um tiro na cabeça. limpo. treinamento de exército.
quando viraram o corpo, viram um sorriso.
nem sinal do amor.
mas também não havia dor.
nunca mais.
4 comentários:
Uau.. as intermitências do amor. Lindo. Onde está? será que não vemos? será que o que esperamos ser amor não é? E nesse dia dos namorados, o que deve ser amor? Eu não sei. Se desapareceu foi porque deixamos. dissemos: amor, vá-te. NUnca mais?
adorei o texto, de verdade
Um texto sobre o amor (e a falta de)bem no dia dos namorados. Muito apropriado!
Realmente, está em falta... até mesmo o "amor com azinho", (muito bom, Thiago hehehehe), mas acho que é pq procuramos no lugar ou na pessoa errada. Ainda acredito no Amor. Estou romântica (e brega) hoje. Acho que é a data...
O texto é sensacional. Adorei o blog. Parabéns!
que texto excelente...choca...mandei pra colega de trabalho que está a meu lado. E ela vai mandar para o ex-marido. Que loco!
Há braços!
:-)))
Seu texto me paralisou, não sei exatamente o porquê. Não é apenas a falta, mas o jeito desesperado de saná-la a qualquer preço, cegos pra todo engano.
O mestre Guimarães dizia "qualquer amor é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura". Que em nossas buscas loucas de cansaço e agonia, o amor seja a esteira, a água do pote, a chama da vela, alguma saída.
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