segunda-feira, 7 de setembro de 2009

DIA DA PÁTRIA

Se temos os jornais, noticiários e páginas da WEB, filmes e livros de terror para quê?
O dia-a-dia consegue deixar-nos doentes, assustados, temerosos, em pânico, aterrorizados, com poucas palavras. E sobre cada assunto não se fala pouco... fala-se muito: ataques a favelas e favelados que atacam, assaltos, estupros, roubo, bandalheiras, grupos econômicos “et caterva”...
Além disso há a infinidade de regras a seguir para ter vida saudável: não consumir açúcar, comer pouco, não ingerir gorduras, não deglutir frituras, não tomar refrigerantes, tomar dois litros de água, fazer caminhada, manter o stress sob controle, comer quatro frutas diferentes por dia, etc, etc e etc, tomar cuidado com H1N1, com a hepatite C, vírus, bactérias, correção postural, fazer alongamentos, queimar catorias e ainda queremos manter-nos atualizados lendo os livros lançados, conhecendo a filmografia deste ou daquele diretor, fazer sucesso na carreira e ser feliz, ah, como é importante ser feliz!

Vivemos na sociedade do descartável, da mesma forma como encontramos, perdemos: amores temporários, filhos do marido, ex esposa, ex marido, ex sogra, religião que já era, e o que vivemos hoje é uma enorme, insuplantável angústia produzida pelo excesso de informação.
O problema não é inédito. Quem investigar o século 16 descobrirá, que foi a época da história moderna mais parecida com a contemporânea. Na verdade, o século 16 é a base dos tempos modernos.
A "globalização" começou no século 16, quando os portugueses fizeram o costeamento da África, corrigiram o conhecimento clássico (especialmente de Aristóteles e Ptolomeu) e estabeleceram uma conexão global, inédita na história da civilização. Em 1543, os portugueses desembarcaram no Japão, introduziram armas de fogo, alteraram o poder político, mudaram a capital para Kioto e abriram, com pólvora e astúcia, o comércio japonês para Portugal. Vários historiadores consideram que, desta forma, Portugal teria preparado o Japão para o que este país é hoje.
A globalização iniciada em Portugal deu base observacional para o que chamamos de "revolução científica" do século 17 – as bases teóricas construídas por Francis Bacon, na Inglaterra, e René Descartes, na França.
O português D. João de Castro, antecipou-se a Newton na defesa dos antípodas, populações vivendo em hemisférios opostos da Terra, como brasileiros e japoneses. Pedro Nunes, cosmógrafo, foi o maior responsável pelo desenvolvimento da navegação estelar em Portugal, Garcia de Orta, experimentador inédito demonstra que as navegações portuguesas, além da conexão física do mundo, estabeleceram uma rede de interação cultural de profunda dimensão antropológica.
Pouca gente se pergunta sobre o significado de os portugueses andarem atrás de especiarias no século 16: noz moscada, pimenta, cravo e canela, entre outros, produtos hoje praticamente sem valor comercial. A questão por trás disso é que o século 16 foi um período revolucionário. Os padrões alimentares estavam em transformação, daí a demanda por temperos e conservantes. Os costumes mudavam rapidamente, por razões que foram da difusão do vidro (e dos óculos para leitura) à posse doméstica da Bíblia (que estimulou o cisma ocidental da igreja cristã), passando pelo destronamento da Terra do centro do sistema solar, obra de Nicolau Copérnico.
Há uma fascinante relação entre as épocas históricas e os modelos cosmológicos, tema que entre nós está para ser devidamente tratado, sobretudo pela mídia. E é preciso dizer que a posse da Bíblia resultou da difusão, no Ocidente, dos tipos móveis de Gutenberg (tipos móveis de madeira já existiam na China e na Coréia) e esta é a base tecnológica mais sólida para a imprensa.
Também no século 16 as pessoas estavam desorientadas. Se a Terra não era mais o centro do sistema solar, nem o centro do universo, como demonstrou em seguida Galileu, e, além disso, tinha movimento, o que continuava sendo verdade?
No Brasil do século XXI nos perguntamos: de tudo o que sabemos, o que é verdade? A incapacidade de encontrar resposta nos angustia ainda mais. Por que a Vanusa cantou daquele jeito, por que a Vanusa, por que Palocci, por que Dilma, por que Marina....?
Feliz dia da Pátria!



PS- ... e procurando uma ilustração para este texto, não é que descubro que em Açores existe uma cidade chamada Angústias? Ah, esses portugueses sabem das coisas.

4 comentários:

Anônimo disse...

Este texto maravilhoso de Rosa Leda nos faz ficar atentos a uma grande máxima, que está presente em um ditado popular "tudo que é demais é muito".

Diziam os latinos quod abundat non nocet (o que é demais não prejudica), mas o texto de Rosa lembra que é preciso ter cuidado.

Thiago Azevedo disse...

Contribuição…
Gostaria de colaborar com esse magnífico texto que tantas idéias me deu…
Se posso apontar um fenômeno que me incomoda por sua superficialidade e sua institucionalização econômica é o da elevação da “carreira” como algo a ser construído a todo e qualquer custo, tornando irrelevante a própria concepção social e ética do indivíduo. A idéia de que as instituições de ensino estão aí para preparar seres humanos para carreiras brilhantes e, o tempo todo, vinculando a idéia de sucesso na vida a um escalonamento hierárquico social ao qual se deve pleitear e galgar a qualquer custo me parece a conseqüência inevitável desta desconstrução da identidade dos homens. O denominador comum da sociedade (entendido como o núcleo duro da formação do indivíduo e parâmetro para a comparação entre estes) deixou de ser o resultado social de sua contribuição em vida no seu ambiente, para se tornar algo mensurável unicamente por seu salário, pró-labore e no número de pessoas que acatam suas ordens sem titubear. Enquanto acreditamos ganhar liberdade, as relações econômicas tornam nossos objetivos cada vez mais militarescos (tenho mais medalhas em meu peito... e tenho mais homens sob meu comando).

Janaina Fainer disse...

Thiago,
vi seu texto no JC
parabéns
bjs

Unknown disse...

Rosa Leda:
O meu orientador americano dizia que menos era mais... e ele sabia das coisas. Dizia que se me ensinasse a fazer uma boa pergunta, não se preocuparia com a resposta... Por que?
Por que a moça cantou? Primeiro: ela canta ou encanta, somente? Talvez ela quisesse fazer uma releitura da Fafá de Belém. Quem não se lembra dela cantando o hino nacional daquele jeito...estranho?
Pós-moderno? Pós morte de um presidente tão desejado? Sorte a dele ter morrido, como um heroi, virou mito.
Por que Dilma ou Palocci? Por que o Brasil está podre por dentro e por fora. Jogaram a Ética na lata do lixo. Ética, palavra que eles desconhecem, então falta vergonha na cara.Todos cínicos, sujos, ladrões, com um objetivo pior do que o do senhor Chavez, e o Sarney, que tolo não é, sabe disso e de outros planos.
Uma pena para nossa pobre pátria amada, salve, salve!!!!!!!!!!
Bjs
Janira