quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Três vezes de quinze...

Aproveitando o espaço, estou publicando uma coluna bem divertida da nossa colega Rosa Bertoldi que saiu no Jornal da Cidade em 27/08/2009

"A filha me acha desastrada e o dentista Flávio Monteiro pensa que, como os incas, fumo cannabis ativa, mito ligado à minha geração, mas que as ruas vão ter um cheiro diferente depois da nova lei do fumo, ah, isso elas vão! Quanto a mim: falo de Woodstock, direitos iguais e meus preferidos são os poetas simbolistas como Blake, Rimbaud e os malucos da geração beatnik. Pessoa comum alimentando-se de integrais, fazendo reposição hormonal, tomando florais, acreditando em ET e no Dalai Lama, divertindo-se com rock and roll e Caetano Veloso.
Faço uso do lado direito do cérebro produzindo idéias flexíveis, divertidas, visuais, místicas, imaginativas, não lineares... Daí viver esbarrando nas coisas. O consolo é saber que artistas, rebeldes e empreendedores têm fama de empregar esse tipo de pensamento. Mesmo estando tão bem acompanhada, “saia justa” não falta no meu guarda-roupa! Em relação às academias, tenho passagens engraçadas. Certa vez, caí da esteira e uma outra fiquei presa em um aparelho de musculação. Acabei literalmente resgatada pelos bombeiros. Mas a preocupação atual é outra.
Três vezes de quinze... No princípio, era o verbo, reza a Bíblia. Comigo foi: no princípio, fui reprovada no teste de vista ao renovar a carteira de motorista. Saí da clínica com a impressão de estar quase cega, pelo mau jeito da examinadora, mesmo precisando de menos um grau em lentes para longe. Tenho óculos de três graus para perto e acho o máximo. Dá um ar de intelectual, não é?
Três vezes de quinze... Mais um, na série de acontecimentos, que me levou a pesquisar sobre a terceira idade. Avisos em bancos e supermercados acusam a idade de 60 anos. Então, o brasileiro deveria viver 90.
Porém, a média é de 75, portanto, ela tem início aos 50. Com o avanço da medicina e tratamentos de rejuvenescimento, a população remoçou 10 anos, afirmam especialistas. Isso significa contar a idade a partir de 11 anos? Se somar 10 aos 60 das placas, essa tal terceira idade começa aos 70. Entendeu? Nem eu. Vai ver é o contrário...
Ao mesmo tempo, matriculei-me em nova academia. Como os exercícios são modificados a cada mês, as anotações das fichas são escritas a lápis. Bem, eu não enxergo de perto, e, para ser sincera, nem de longe. Estico, estico o braço e não vejo nada. O professor indica os aparelhos. Eu pensando no Saramago, em seu ensaio sobre a cegueira, reconhecendo como ele, necessitar dela para melhor enxergar aquilo que os olhos não desejam ver. Porém, dia desses, vi com esses olhos que a terra há de comer: 3 x 15 em letras tão grandes ou maiores que as impressas na primeira página do JC. Ri e perguntei: três repetições de 15 para as pernas? Estou contando a história e pedindo ao diagramador letras miudinhas, daquelas para serem lidas com lupas! Não liga, ela é excêntrica mesmo, dirá minha filha, fazendo coro com o Flávio e agora com o Diguê. Esquisita... por acredita em disco voador ou por não conseguir ler a ficha na academia?"

A autora é colaboradora do Ju Machado Escritório de Arte e assina com o pseudônimo de Rosa Bertoldi

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