quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O sentido da vida...

A matéria de capa da revista Superinteressante deste mês é digna de aplauso e deve aguçar a curiosidade dos que com ela se depararem nas bancas. Trata-se de um curioso apanhado de informações sobre o ser humano. Com o título de “A ciência de ser você”, a revista traz uma série de pequenas matérias que tratam da humanidade e do ser humano e sua contribuição no destino do planeta e do próprio “mundo” criado pelo homo sapiens. Muito embora seja por inteiro de grande valia, o texto da revista traz ainda, no finalzinho, uma curiosa matéria com o título “a coisa mais importante da vida”. Nessa parte, faz uma afirmação taxativa e baseada em dados empíricos (ao menos, aparentemente): ter amigos é a grande dádiva e, numa análise ampliada, o verdadeiro significado da existência.

Ao folhear a revista na fila do mercado, pude me sentir um grande privilegiado. Afinal, não precisei contratar uma multidão de jovens para que saíssem pelas ruas, com um questionário sob o braço, perguntando às pessoas sobre o verdadeiro sentido da vida. Não tive que ler um sem número de livros de auto-ajuda do estilo de “Como fazer amigos e influenciar pessoas”. Nem mesmo precisei de terapia. Bastou-me, por uma dádiva do universo, ter ouvido os conselhos que meu pai e seus amigos (sempre) insistiram em me dar.

Não quero parecer piegas ao apontar estes fatos, nem entoar uma ode à amizade, desejando que todos saiam pelas ruas, de mãos dadas, cantando “Amigos para siempre”. A existência é complexa demais para isso e supor que todos possam ser amigos (no mais puro sentido da palavra) é uma insanidade. Gostaria, isto sim, de apontar aos leitores os motivos que, para mim, numa tentativa racional de discurso e encadeamento de idéias, fazem da experiência da amizade a grande comprovação desse curtíssimo e fantástico instante em que nossas consciências estão acesas no universo. Creio fortemente que o ser humano não se compreende sozinho. O olhar do outro é fundamental para que possamos perceber quem somos. Essa necessidade do outro para que possamos nos ver em seus olhos, aliado à consciência da finitude de ambos, faz do amigo uma testemunha transcendental de nossa passagem lúcida por este planeta. Está aí, a meu ver, a essência da transcendência.

É curioso perceber que, por mais que a maioria das pessoas responda que a coisa mais importante da vida é a amizade, não é tão fácil assim encontrar amigos. Eles não batem à nossa porta e, como muitos já disseram, geralmente podem ser contados nos dedos de uma mão (pelo menos no meu caso é assim). Sabemos, é certo, que, quando o assunto é amizade (e acho que em tudo na vida), quantidade não é sinônimo de qualidade. Amigos, como já dito por outros, são “os poucos e bons”.

Muito embora o objetivo da matéria fosse, efetivamente, apontar a amizade como o elemento fundamental da vida, ao terminar a leitura (na verdade, um “passar de olhos”) da revista, veio-me à cuca um pensamento inusitado. Refleti sobre a enorme quantidade de pessoas que eu conheço (conhecidos desde os tempos de criança ou mesmo mais recentes) que, por traços específicos de sua personalidade, simplesmente não possuem amigos no sentido que eu atribuo à palavra. São pessoas incapazes de conseguir enxergar a beleza da amizade entendida como um gesto de coragem. São pessoas que vivem cercadas de colegas, seguidores, fãns, funcionários, chefes, parentes, colaboradores, pagens, mas que, simplesmente, não tem amigos. Não tem a habilidade para ter amigos. Não tem o dom para a amizade. São pessoas que pensam que amigos são aqueles que te ajudam a tirar o “seu” da reta, enquanto, na minha opinião, os amigos são aqueles que te olham e te compreendem, concordando ou não com aquilo que vêem.

Confesso que o sentimento que me veio à tona não foi, por assim dizer, dos mais politicamente corretos. Pois, ao refletir sobre os traços de cada uma dessas pessoas e neles ver os traços deliberados de uma certa mendicância social, parte de mim teve a alma apaziguada ao pronunciar em silêncio um “bem feito”, enquanto os via (em minha mente) exercendo uma atividade que em muito me lembrava o consumo de uma prostituição sem sexo. Foi como se, ao assim proceder, eu defendesse em silêncio esta minha concepção de amizade que exige muito mais do que tapinhas nas costas e rodadas por círculos sociais. A minha amizade dói, mesmo quando é festiva, e faz correr as lágrimas ao perceber o milagre do encontro. Talvez por isso eu tenha me regozijado com a solidão dos covardes.

6 comentários:

Janaina Fainer disse...

Ótimo o texto
e sim, amigos são duros de achar mas qdo se acha é um prazer inominável
os meus, mesmo que caibam em uma mão, são meus amores eternos
bjs e boa semana pro ce

Rosa Bertoldi disse...

Disse um poeta "que amigos são pra se guardar em baixo de sete chaves". Bom ter amigos, não é?
Ótimo texto com sempre!
Parabéns.
Rosa II

Cassia disse...

Cada dia mais ansiosa pelas quartas-feiras.
Nunca me decepciono... texto demais, fluido... daqueles que nao queria que acabasse...

parabens, menino!

beijo
Cassia

Camilla disse...

Super texto, me emocionou.
Vc deve ser um bom amigo.
bjs

Unknown disse...

"O olhar do outro é fundamental para que possamos perceber quem somos."
Obrigada pela honra de me deixar considerar o seu para minha propria percepçao.
Amo voce!

Unknown disse...

Texto genial. Pra variar.